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Brasil antártico
Expedição ao interior
da Antártida e centros polares indicam novos
e positivos rumos no programa nacional
A ANTÁRTIDA , na visão de
muitos brasileiros, fica
longe demais para merecer atenção. Há 26
anos, porém, o país sustenta o
Programa Antártico Brasileiro
(Proantar) com relativo sucesso.
Após um quarto de século, o programa deu um salto quantitativo
e qualitativo -o que é bom e útil
para o Brasil, tendo em vista a
proximidade do continente austral de 13,83 milhões de km2 e sua
influência sobre o país.
No manto antártico encontra-se cerca de 90% da água doce do
planeta, mas em estado sólido.
Todo esse gelo exerce enorme
influência sobre o clima da Terra. O Brasil, sétima nação mais
próxima da Antártida, não poderia escapar dela.
Há indicações de que as frentes frias no Sul e no Sudeste, por
exemplo, estejam diretamente
relacionadas com o mar congelado em torno do continente branco. Na pior das hipóteses, os processos que lá ocorrem são tão importantes para o clima nacional
quanto a Amazônia, mas bem menos
conhecidos.
Faz sentido
investir na
pesquisa antártica.
Manter um
programa de
investigação
significativo,
de resto, constitui exigência
legal aos
membros consultivos do
Tratado Antártico, que
entrou em vigor em 1961. O Brasil adquiriu essa condição em
1975, na esperança de exploração de jazidas de gás natural, carvão e petróleo na Antártida. Tal
possibilidade foi suspensa pelo
Protocolo de Madri, de 1991 (em
vigor desde 1998), que designa o
continente como "reserva natural, devotada à paz e à ciência".
O Proantar, criado em 1982, levou à instalação da Estação Antártica Comandante Ferraz na
ilha Rei George, nas Shetlands
do Sul. Fica na ponta da península Antártica, região mais próxima da América do Sul. Em seu
entorno realiza-se a maior parte
dos estudos científicos, muitos
deles de caráter convencional e
descritivo, como pesquisas populacionais sobre aves.
A latitude menos inclemente
em que se localiza a estação,
-62; o polo Sul está a 90- não
propicia, contudo, condições
adequadas para investigar o elemento onipresente na Antártida: gelo. Esse manto com espessura média de 1.829 metros está
na base da pesquisa polar mais
avançada, que lança mão das informações físico-químicas em
microbolhas de ar nele seladas
há dezenas, centenas, milhares
ou milhões de anos, dependendo
da profundidade. A pesquisa nacional com testemunhos de gelo
era mínima.
Tal situação começou a mudar
de modo decidido com o Ano Polar Internacional 2007/2008,
que se encerra no próximo mês
de março. Trata-se da quarta
edição de um esforço internacional de pesquisa que envolveu 63
países e 227 projetos de pesquisa, 28 deles brasileiros, com participação de 30 instituições. Só o
Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) investiu R$ 28 milhões, a maior soma já aplicada
na investigação antártica desde a
criação do Proantar.
O ponto alto desse esforço foi a
Expedição Deserto de Cristal,
que reuniu sete pesquisadores
da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul e da Universidade
do Estado do Rio de Janeiro na
primeira missão científica brasileira ao interior do continente.
No centro da missão estava a obtenção de testemunhos de
gelo na região
dos montes
Patriot e do
monte Johns,
2.157 km ao
sul da estação
brasileira e a
apenas 1.083
km do polo
Sul.
Boa parte da
análise do gelo coletado
pelo grupo
ainda será
realizada no
exterior, pela
Universidade
do Maine
(EUA), mas
também essa
limitação cairá em breve. No final de novembro, ao anunciar a criação de
uma centena de Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia
(INCTs), o MCT consagrou dois
dedicados à ciência polar: o
INCT Antártico de Pesquisas
Ambientais e o INCT da Criosfera. O segundo centro será coordenado pelo glaciologista gaúcho
Jefferson Cardia Simões, líder
da Expedição Deserto de Cristal,
e contará com laboratórios frios
para processamento dos testemunhos colhidos na Antártida e
em geleiras andinas.
O biênio 2007/2008 pode entrar para a história como aquele
em que o país passou a prestar a
atenção devida à Antártida. Para
isso, será preciso sustentar esses
passos iniciais no interior do
continente com a mesma determinação com que se conduziu o
Proantar nos seus primeiros 25
anos -e com mais recursos.
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