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MARCOS NOBRE
Do Chile ao Brasil
A DITADURA liderada pelo
general Pinochet no Chile
manteve controle estrito sobre o processo de transição para a
democracia, durante a década de
1980. No Brasil, pode-se dizer que
os militares conseguiram manter
relativo controle do processo até a
eleição indireta de Tancredo Neves
à Presidência, em 1985. Mas não depois disso.
Para derrotar Pinochet, os mais
variados partidos de oposição fizeram um grande acordo para as eleições presidenciais de 1989. Foi um
movimento que ficou conhecido
como "Concertación" e que se
manteve no poder por 20 anos. Até
a derrota do último domingo, com
a eleição do candidato de direita Sebastián Piñera.
O Brasil da redemocratização foi
marcado por pelo menos dez anos
de disputa selvagem entre grupos e
partidos políticos, sem que nenhum deles conseguisse se impor
sobre os demais. Até que a coalizão
do Plano Real conseguiu impor um
modelo de desenvolvimento para o
país. E, como consequência, estabeleceu o PT como o líder do segundo polo do sistema político.
O curioso é que, apesar dessa polarização a partir de 1994, também
o Brasil acabou por construir a sua
Concertación. Os 16 anos de Lula e
FHC representam o estabelecimento de um acordo de base extenso e detalhado entre os dois polos
da política brasileira. A tal ponto
que vai ser difícil ver reais diferenças entre as campanhas de Serra e de Dilma, por exemplo.
No último domingo, a Concertación no Chile foi derrotada duplamente. Em primeiro lugar, por
Marco Enriquez-Ominami, candidato de 36 anos que alcançou nada
menos que 20% dos votos no primeiro turno das eleições presidenciais. Saído do interior da Concertación, Ominami posicionou-se à esquerda do candidato da situação.
Sua votação mostrou que o modelo chegou a seu limite.
A Concertación chilena foi derrotada também porque sua estratégia de longo prazo para neutralizar a direita se esgotou. A ideia de
incorporar seletivamente ao grande acordo temas e grupos da direita
deixou de funcionar. O eleitorado
optou pela polarização e acabou
dando a vitória a uma direita que ainda mantém laços e bases importantes no período Pinochet.
Ao dizer que nas eleições de 2010
não haverá candidaturas truculentas, Lula apenas colocou em palavras a Concertación brasileira.
Também usa todo o seu poder para
manter essa Concertación sob a
forma curiosa da polarização PT-PSDB. Pode ser que ainda dure algum tempo. Mas o fato é que, se
não fizer nada para mudar, a Concertación brasileira estará se preparando tanto para o seu Ominami
como para o seu Piñera.
nobre.a2@uol.com.br
MARCOS NOBRE escreve às terças-feiras nesta
coluna.
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