|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ELVIRA LOBATO
Transparência na radiodifusão
A INCLUSÃO do apresentador
de TV Augusto Liberato, o
Gugu, no cadastro oficial do
Ministério das Comunicações como acionista da emissora de TV
Pantanal Som e Imagem, de Cuiabá (MT), noticiada ontem, pela Folha, é reveladora da falta de transparência sobre a propriedade da
radiodifusão no Brasil.
É prática disseminada no setor
registrar participações acionárias
em nome de terceiros, sempre que
o verdadeiro dono está impedido
pela legislação de se identificar como tal.
Rememoremos o caso Gugu: No
final de 2001, o apresentador -cujo anseio de possuir uma TV era conhecida no meio televisivo- comprou 100% do capital da empresa
Pantanal Som e Imagem, que acabara de vencer a licitação pública
federal para um canal de TV em
Cuiabá, com a oferta de pagamento
de R$ 1 milhão pela licença. Em
agosto de 2002, durante a campanha eleitoral para a Presidência da
República, o Ministério das Comunicações assinou o contrato de
concessão. Liberato era âncora do
programa eleitoral de José Serra,
então candidato do PSDB na corrida presidencial, daí o caso ter chamado a atenção.
Uma rápida investigação jornalística mostrou, na época, que o
contrato era ilegal e feria tanto a legislação de radiodifusão quanto a
de licitações públicas. A legislação
só admite a venda do controle acionário de emissoras após decorridos
pelo menos cinco anos de funcionamento. Liberato poderia ter
comprado até 49,99% das cotas da
Pantanal, mas não poderia ter o
controle da empresa.
O ex-ministro das Comunicações Juarez Quadros anulou o contrato duas semanas antes do segundo turno da eleição. Liberato
recorreu ao STJ (Superior Tribunal de Justiça), que confirmou a
decisão do ex-ministro.
No ano passado, o governo pavimentou o caminho para Gugu reaver a TV. Aceitou a tese de que ele
agira de boa-fé e que comprara o
controle da Pantanal por desconhecer o impedimento legal. Liberato "desfez o negócio" e "devolveu" 100% das cotas aos antigos
donos. Passados oito meses, em dezembro, recomprou oficialmente
49,99% da emissora.
A volta do apresentador como
minoritário foi recebida com descrédito por executivos do setor.
Desconfia-se que ele possua contrato particular que lhe assegure o
controle efetivo da empresa. Afinal, trata-se de prática disseminada no setor.
Há uma semana, a mesma Folha
noticiou que a Igreja Renascer tem
duas concessões de TV e 23 concessões de rádio em nome de três
empresas.
A transparência em relação à
propriedade dos meios de comunicação é o primeiro passo para modernizar o setor.
ELVIRA LOBATO é repórter especial da Folha.
Texto Anterior: Rio de Janeiro: Luiz Fernando Vianna: Idéias que ninguém pediu Próximo Texto: Frases
Índice
|