|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FERNANDO DE BARROS E SILVA
Aquarela do Brasil
SÃO PAULO - O novo ministério
de Lula merece um minuto de reflexão -ou de silêncio. O caso Balbinotti serviu para deixar à mostra o
fundo falso do moderno agrobusiness brasileiro: tem um pé fincado
na ilegalidade e outro no esbulho de
pobres diabos -"laranjas", no caso.
O progresso se ancora em pressupostos que o desmentem. É o Brasil.
O presidente disse ter gostado do
"jeitão" do novo rei da soja. O "self
made man" rústico e caloroso -só
que milionário- é uma outra versão do próprio Lula. "Homens cordiais", diria Sérgio Buarque.
De resto, nhonhô parece muito à
vontade com o loteamento do fazendão. "O companheiro Geddel é o
exemplo mais forte dessa coalizão",
disse Lula sobre o novo artista da
Integração Nacional. Ex-viúva de
FHC, o deputado neolulista citou
Celso Furtado na posse. Agora é
moda entre os titulares dessa pasta.
Se o país fosse a pálida imagem
daquele sonhado por Furtado -e
ao qual dedicou boa parte de sua inteligência e energia-, figuras como
Geddel não estariam onde estão.
O ministério do segundo mandato exprime o lulismo na plenitude.
O PT encolheu na marra e gente
que poderia disputar os holofotes
com Lula foi banida e/ou enquadrada. Marta vai, literalmente, passear.
A coalizão arquitetada para o segundo mandato leva o caciquismo
ao centro do palco e consagra a fisiologia no exercício do poder. Conservador na economia, na política o
governo é antes atrasado. Ainda é o
caso de lembrar honrosas exceções
como Fernando Haddad?
Como o novo ministério, a recepção que o Senado fez a Collor na semana passada pede luto. A defesa
que o ex-presidente fez de si mesmo acabou ofuscada pelas mesuras,
elogios e reações lacrimejantes de
seus pares, que transformaram a
sessão num patético desagravo. Os
tucanos Tasso Jereissati e Arthur
Virgílio, udenistas quando convém,
deixaram cair a máscara. Faltou
pouco para que o Senado fizesse do
impeachment um equívoco histórico. De novo, o país dos homens cordiais se sobrepôs às conquistas da
República. Segue sendo o Brasil.
Texto Anterior: Editoriais: Derrubar o veto Próximo Texto: Brasília - Fernando Rodrigues: O "padrão Lula" de fazer política Índice
|