São Paulo, segunda-feira, 19 de março de 2007

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FERNANDO DE BARROS E SILVA

Aquarela do Brasil

SÃO PAULO - O novo ministério de Lula merece um minuto de reflexão -ou de silêncio. O caso Balbinotti serviu para deixar à mostra o fundo falso do moderno agrobusiness brasileiro: tem um pé fincado na ilegalidade e outro no esbulho de pobres diabos -"laranjas", no caso. O progresso se ancora em pressupostos que o desmentem. É o Brasil.
O presidente disse ter gostado do "jeitão" do novo rei da soja. O "self made man" rústico e caloroso -só que milionário- é uma outra versão do próprio Lula. "Homens cordiais", diria Sérgio Buarque.
De resto, nhonhô parece muito à vontade com o loteamento do fazendão. "O companheiro Geddel é o exemplo mais forte dessa coalizão", disse Lula sobre o novo artista da Integração Nacional. Ex-viúva de FHC, o deputado neolulista citou Celso Furtado na posse. Agora é moda entre os titulares dessa pasta.
Se o país fosse a pálida imagem daquele sonhado por Furtado -e ao qual dedicou boa parte de sua inteligência e energia-, figuras como Geddel não estariam onde estão.
O ministério do segundo mandato exprime o lulismo na plenitude. O PT encolheu na marra e gente que poderia disputar os holofotes com Lula foi banida e/ou enquadrada. Marta vai, literalmente, passear.
A coalizão arquitetada para o segundo mandato leva o caciquismo ao centro do palco e consagra a fisiologia no exercício do poder. Conservador na economia, na política o governo é antes atrasado. Ainda é o caso de lembrar honrosas exceções como Fernando Haddad?
Como o novo ministério, a recepção que o Senado fez a Collor na semana passada pede luto. A defesa que o ex-presidente fez de si mesmo acabou ofuscada pelas mesuras, elogios e reações lacrimejantes de seus pares, que transformaram a sessão num patético desagravo. Os tucanos Tasso Jereissati e Arthur Virgílio, udenistas quando convém, deixaram cair a máscara. Faltou pouco para que o Senado fizesse do impeachment um equívoco histórico. De novo, o país dos homens cordiais se sobrepôs às conquistas da República. Segue sendo o Brasil.


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