São Paulo, terça-feira, 19 de abril de 2011

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FERNANDO DE BARROS E SILVA

A hora do bafômetro

SÃO PAULO - Foram muitas as piadas que circularam pelo Twitter: "A oposição está sem rumo: dirige bêbada e sem carteira"; "O guarda era o Serra"; "Agora eles podem formar a chapa puro-sangue: sangue de boi". O tucano Nárcio Rodrigues, da tropa de choque mineira, saiu em defesa do amigo: "Mesmo sem carteira o @AecioNeves ainda é o melhor nome para dirigir o país". Assim quem precisa de inimigos?
O líder mais vistoso da oposição foi abordado por uma blitz na madrugada de domingo, perto de casa, no Leblon. Sua carteira de habilitação estava vencida. A polícia diz que ele se recusou a fazer o teste do bafômetro, o que foi negado pela assessoria do senador.
Aécio pode jurar que só bebeu suco de groselha no canudinho na noite de sábado. Não adianta. O estrago já está feito. O contratempo carioca reforça o estigma que pesa sobre o político galã que gosta de curtir a vida adoidado. Reforça também o lugar-comum segundo o qual não é possível ser feliz na vida pública e na vida privada ao mesmo tempo. Marta Suplicy, por outras razões (ligadas ao machismo), pagou um dia esse preço.
Diante do flagra, alguns dirão: é imperdoável, sobretudo de quem se deve exigir atitude exemplar. Ao que outros retrucarão: sem hipocrisias, essa não é uma falta grave.
Avaliado segundo os rigores da lei ou segundo os critérios flexíveis do jeitinho brasileiro, Aécio caiu na boca do povo. Não é o melhor cartão de visita para quem acabou de subir na tribuna do Senado a fim de vender o peixe da oposição.
Para o país, o exemplo prático de que ninguém está acima da lei é positivo. Para Aécio, o trauma talvez explicite um dilema já antigo: afinal, você quer ser o eterno playboy que transita à vontade pelas bocas do luxo ou quer ser presidente da República? As coisas talvez não sejam incompatíveis. Sim, mas se tiver que decidir? Assim, na lata? Dá para tomar uma antes?


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