São Paulo, segunda-feira, 19 de julho de 2004

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FERNANDO RODRIGUES

O nada e a coisa nenhuma

BRASÍLIA - O crescimento da economia acobertará as ineficiências do governo Lula. Mas elas continuarão a existir. Sobretudo a falta de sofisticação para tirar o país do atraso institucional em que se encontra. A lacuna gerencial mais gritante é a incapacidade para solucionar o baixo nível crônico de investimentos.
Antonio Palocci é festejado pelo que não faz -baixar os juros e liberar verbas para obras sociais. Seu mérito é fazer quase nada. Espera o tempo passar e reza para não haver uma crise econômica externa.
O exemplo vivo mais recente da falta de expertise gerencial na administração federal é um balão de ensaio inflado pelo ministro do Trabalho, Ricardo Berzoini, curiosamente um dos quadros petistas mais preparados da Esplanada. É um tal "Simples do Simples", espécie de imposto que facilitaria a regularização de microempresas urbanas. Assim, pelo valor de face, parece coisa boa. No fundo, percebe-se, é só uma bobagem.
A idéia é que as empresas clandestinas só paguem um imposto de 3% sobre seu faturamento bruto mensal. Estariam todas legalizadas, livres de outras taxas ou contribuições -inclusive as decorrentes da assinatura das carteiras de trabalho de seus funcionários. Que maravilha.
Agora, a realidade. O benefício é limitado a empresas que faturam, por mês, até R$ 3.000. Esse empresário clandestino não tem a menor intenção de se legalizar. Por que alguém com uma banquinha de camelô ou um carrinho de cachorro-quente desejaria pagar impostos? Os produtos do camelô são contrabandeados. Os ingredientes do sanduíche são comprados sem nota fiscal.
O "Simples do Simples" é a soma do nada com coisa nenhuma. Uma categoria de idéia que prospera à larga no petismo federal. Enquanto isso, a economia só cresce por inércia. O preço de propostas desconectadas da realidade será pago na próxima crise, daqui a dois ou três anos, sendo otimista. Para o Brasil, mais um flagelo. Para o PT, OK. O interesse maior da sigla é apenas reeleger Lula.


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