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FERNANDO RODRIGUES
O nada e a coisa nenhuma
BRASÍLIA - O crescimento da economia acobertará as ineficiências do
governo Lula. Mas elas continuarão
a existir. Sobretudo a falta de sofisticação para tirar o país do atraso institucional em que se encontra. A lacuna gerencial mais gritante é a incapacidade para solucionar o baixo nível crônico de investimentos.
Antonio Palocci é festejado pelo que
não faz -baixar os juros e liberar
verbas para obras sociais. Seu mérito
é fazer quase nada. Espera o tempo
passar e reza para não haver uma
crise econômica externa.
O exemplo vivo mais recente da falta de expertise gerencial na administração federal é um balão de ensaio
inflado pelo ministro do Trabalho,
Ricardo Berzoini, curiosamente um
dos quadros petistas mais preparados da Esplanada. É um tal "Simples
do Simples", espécie de imposto que
facilitaria a regularização de microempresas urbanas. Assim, pelo valor de face, parece coisa boa. No fundo, percebe-se, é só uma bobagem.
A idéia é que as empresas clandestinas só paguem um imposto de 3% sobre seu faturamento bruto mensal.
Estariam todas legalizadas, livres de
outras taxas ou contribuições -inclusive as decorrentes da assinatura
das carteiras de trabalho de seus funcionários. Que maravilha.
Agora, a realidade. O benefício é limitado a empresas que faturam, por
mês, até R$ 3.000. Esse empresário
clandestino não tem a menor intenção de se legalizar. Por que alguém
com uma banquinha de camelô ou
um carrinho de cachorro-quente desejaria pagar impostos? Os produtos
do camelô são contrabandeados. Os
ingredientes do sanduíche são comprados sem nota fiscal.
O "Simples do Simples" é a soma do
nada com coisa nenhuma. Uma categoria de idéia que prospera à larga
no petismo federal. Enquanto isso, a
economia só cresce por inércia. O preço de propostas desconectadas da
realidade será pago na próxima crise,
daqui a dois ou três anos, sendo otimista. Para o Brasil, mais um flagelo.
Para o PT, OK. O interesse maior da
sigla é apenas reeleger Lula.
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