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EMÍLIO ODEBRECHT
Empresas familiares
O CRESCIMENTO econômico
do Brasil teve uma participação relevante de empresas familiares. Esta é a origem de
alguns dos principais grupos privados do país.
Construí minha trajetória profissional em um deles e pude acumular alguns aprendizados.
O primeiro, e o mais importante,
é sobre o papel do fundador: a forma como ele estrutura a participação da família define o rumo que os
negócios irão tomar. Tudo começa
na transferência do patrimônio
moral e do patrimônio material aos
seus herdeiros.
O patrimônio moral é constituído pelos princípios, valores e crenças a partir dos quais o fundador
educa aqueles que o sucederão.
A preservação desse patrimônio
é que faz com que as empresas
se perenizem.
Quanto ao patrimônio material,
a transferência deve ocorrer o mais
cedo possível, com cláusula de usufruto total ou parcial por parte de
quem o transfere.
Se o fundador tem mais de um
herdeiro, todos deverão receber
partes iguais. Quando a divisão é
igualitária, torna-se mais fácil a
transferência do poder àquele que
foi eleito para liderar os negócios.
O processo sucessório deve ser
baseado em regras claras que todos
conheçam e acompanhem, de forma que a escolha do novo líder, que
assume o papel de mandatário da
família na empresa controlada, se
dê em um ambiente de harmonia,
disciplina, respeito e confiança.
Isso significa que a profissionalização de uma empresa familiar começa na organização da família
controladora.
A boa governança da família e de
seus bens -incluindo as participações societárias que cada membro
detém- deve ser instituída antes,
precedendo o modelo de governança dos negócios.
A ideia da importância de se profissionalizar as empresas de controle familiar quase sempre embute alguma dose de preconceito, como se o sobrenome fosse sempre
tido como o principal atributo para
a ocupação de uma posição de destaque. É uma distorção a ser evitada porque, se as empresas não devem valorizar os laços de sangue,
tampouco podem discriminá-los.
Membros das famílias controladoras podem ser executivos das
empresas controladas. O que não
podem é receber tratamento diferente do aplicado a quem não tem
o mesmo sobrenome. Mas há uma
regra que deve ser perseguida: evitar a relação de hierarquia entre
familiares.
Um ambiente onde estas questões estão bem resolvidas assegura
aos acionistas minoritários e executivos a tranquilidade e a segurança emocional que precisam para tomar decisões -tanto relacionadas aos negócios quanto aos próprios planos de vida e carreira.
EMÍLIO ODEBRECHT escreve aos domingos nesta
coluna.
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