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LULA DESCONTRAÍDO
Num momento de "descontração", como foi classificado
por sua assessoria de imprensa, o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva,
em Santo Domingo, capital da República Dominicana, declarou que um
dos motivos de sua viagem ao Gabão
foi "aprender como um presidente
consegue ficar 37 anos no poder".
Depois das dificuldades do primeiro
ano de mandato, o quadro de recuperação econômica vai permitindo
ao presidente, segundo suas próprias palavras, "sorrir um pouco"
-e, ao que parece, se manifestar de
forma mais relaxada.
Lula já havia, pouco antes, também
a título de "brincadeira", chamado
de "covardes" os jornalistas que não
defendem o projeto do famigerado
Conselho Federal de Jornalismo
(CFJ), encaminhado pelo Planalto ao
Congresso Nacional.
Compreende-se que o presidente
se sinta aliviado com os recentes resultados da economia e que se permita, em determinadas ocasiões, imprimir um tom menos circunspecto
à sua abundante retórica. É recomendável, no entanto, um pouco de cautela: mesmo ao fazer blagues, é o
presidente da República quem fala,
com o peso e a responsabilidade inerentes ao cargo.
Sem perder de vista que a referência
ao Gabão, como interpretou o senador José Sarney, foi um "chiste", não
deixa de ser sintomático que Lula tenha escolhido o infeliz exemplo da
ditadura africana para manifestar o
desejo de ser reeleito -tema que vai
sendo introduzido na cena política
precocemente, ainda na primeira
metade do mandato presidencial.
Quanto à frase aos jornalistas, foi
de uma inoportunidade a toda prova.
Serviu apenas para realçar o antigo
vezo do sindicalista provocador, em
tudo inadequado a um presidente da
República. Até mesmo defensores
do projeto repudiaram a declaração.
Esperemos que o presidente Lula
aproveite bem seus momentos de
descontração, mas que procure poupar o país de gracejos de gosto e efeitos duvidosos.
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