São Paulo, quinta-feira, 19 de agosto de 2004

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ELIANE CANTANHÊDE

A Chávez o que é de Chávez

BRASÍLIA - O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, não ganhou apenas um referendo. Ganhou muito mais do que isso ao manter o mandato no domingo passado, com 57,84% dos votos contra 42,16%.
Chávez mostrou que é capaz de cumprir todos os mandamentos constitucionais, que tem o apoio dos venezuelanos e que não há vivalma na oposição capaz de fazer frente a ele. Enfim, que é o interlocutor do país com a comunidade internacional e com os parceiros comerciais.
Vamos ao principal deles, os EUA. O governo americano detesta Chávez, já retirou um embaixador em protesto contra seu governo, aliou-se descaradamente aos golpistas de 2002, torceu contra ele no referendo e demorou um dia para reconhecer sua vitória. Mas tem de engolir Chávez.
É simples: a Venezuela é o quinto maior produtor de petróleo do mundo e um dos mais importantes fornecedores dos EUA. Além disso, com a crise no Iraque sem solução à vista, nunca se sabe o dia de amanhã. É melhor ter uma Venezuela na mão do que dois produtores árabes voando. E quem manda na Venezuela? Quem manda é Hugo Chávez.
Significa que a oposição morreu? Não, em absoluto. Mas significa que Chávez se fortalece, a oposição esmorece e que os próximos movimentos, mesmo aparentemente contra Chávez, tendem a reverter a favor dele.
Agora vem o mais difícil. Fazer o governante venezuelano abdicar um pouco da beligerância e dos microfones e de fato governar. Para isso, ele precisa fazer acenos para seus opositores menos ferozes (e eles existem), ampliar a capacidade produtiva do país para além da PDVSA (a Petrobras de lá) e fazer um governo mais aberto e menos populista.
É possível? Difícil dizer. O preço do petróleo nas alturas (mais de US$ 47 o barril) ajuda muito. Mas depende das condições políticas internas e também de algo fora de controle: a personalidade do presidente. Mesmo quando vence, ele costuma sair atropelando tudo e todos. Ou seja: o risco é de Chávez se voltar contra Chávez.


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