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ELIANE CANTANHÊDE
A Chávez o que é de Chávez
BRASÍLIA - O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, não ganhou
apenas um referendo. Ganhou muito
mais do que isso ao manter o mandato no domingo passado, com 57,84%
dos votos contra 42,16%.
Chávez mostrou que é capaz de
cumprir todos os mandamentos
constitucionais, que tem o apoio dos
venezuelanos e que não há vivalma
na oposição capaz de fazer frente a
ele. Enfim, que é o interlocutor do
país com a comunidade internacional e com os parceiros comerciais.
Vamos ao principal deles, os EUA.
O governo americano detesta Chávez, já retirou um embaixador em
protesto contra seu governo, aliou-se
descaradamente aos golpistas de
2002, torceu contra ele no referendo e
demorou um dia para reconhecer sua
vitória. Mas tem de engolir Chávez.
É simples: a Venezuela é o quinto
maior produtor de petróleo do mundo e um dos mais importantes fornecedores dos EUA. Além disso, com a
crise no Iraque sem solução à vista,
nunca se sabe o dia de amanhã. É
melhor ter uma Venezuela na mão
do que dois produtores árabes voando. E quem manda na Venezuela?
Quem manda é Hugo Chávez.
Significa que a oposição morreu?
Não, em absoluto. Mas significa que
Chávez se fortalece, a oposição esmorece e que os próximos movimentos,
mesmo aparentemente contra Chávez, tendem a reverter a favor dele.
Agora vem o mais difícil. Fazer o
governante venezuelano abdicar um
pouco da beligerância e dos microfones e de fato governar. Para isso, ele
precisa fazer acenos para seus opositores menos ferozes (e eles existem),
ampliar a capacidade produtiva do
país para além da PDVSA (a Petrobras de lá) e fazer um governo mais
aberto e menos populista.
É possível? Difícil dizer. O preço do
petróleo nas alturas (mais de US$ 47
o barril) ajuda muito. Mas depende
das condições políticas internas e
também de algo fora de controle: a
personalidade do presidente. Mesmo
quando vence, ele costuma sair atropelando tudo e todos. Ou seja: o risco
é de Chávez se voltar contra Chávez.
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