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SÉRGIO DÁVILA
A guerra sem fim
EM SEU EXCELENTE livro sobre as guerras do Iraque e do
Afeganistão, Dexter Filkins
conta como os afegãos desenvolveram uma tática militar que, embora não garanta a vitória, permite
que eles tenham o menor número
de baixas possível. "Assim, a guerra
pode continuar para sempre", escreve o repórter em "The Forever
War" (a guerra sem fim, em tradução livre).
Se há uma característica que distingue Barack Obama de seu antecessor, o republicano George W.
Bush, é o saudável hábito do democrata de falar a verdade ao público
-sempre que possível. Ao comentar os desafios no Afeganistão anteontem, o democrata disse que a
guerra naquele país não será fácil
nem rápida.
Aquela não é uma guerra por opção, segundo o presidente norte-americano, mas por necessidade.
De fato. Ao Iraque, os EUA foram
por engano, iludidos e sob falsa
premissa. Era a "guerra de Bush".
Ao Afeganistão, tinham ido para
capturar o autor do 11 de Setembro
e seu bando. É a "guerra justa".
Faltou Obama dizer que o segundo conflito não é vencível.
Lutar contra a Al Qaeda é como
combater a lei da gravidade ou, parafraseando um analista, declarar
guerra à água. O grupo terrorista é
um "não país", chefiado por um
"não líder", cuja regra de combate
é não seguir regras de combate tradicionais. Como um vírus, infiltra-se em regiões de governos fracos
ou lenientes, caso do Paquistão e
do Afeganistão, onde está hoje.
Obama e seu time sabem disso e,
desde março, adotam a estratégia
dos viciados: lutam uma batalha
por vez. A atual é fortalecer o governo central afegão. Para isso,
promovem uma coalizão que inclui os "senhores da guerra" (comandantes regionais de um país
sem unidade nacional) e pode ou
não incluir os talebans, principalmente o "baixo clero" do grupo extremista, que responde bem aos
dólares dos EUA.
Também interessa aos obamistas a manutenção do atual presidente, Hamid Karzai, que, apesar
de corrupto e dúbio em suas relações com o Ocidente, representa o
"mal conhecido". É melhor do que
recomeçar o trabalho do zero com
um desconhecido.
É nesse contexto que acontecem
as eleições afegãs de amanhã, que
elegerá o presidente, dois vices e
membros dos conselhos provinciais. Se tudo correr como a Casa
Branca espera, Karzai vence no
primeiro turno ou bate o ex-chanceler Abdullah Abdullah no segundo turno, e o país chega ao fim do
ano com um comando central mais
sólido.
Isso empurraria a Al Qaeda (e os
talebans não adesistas) mais ainda
para o vizinho Paquistão. Que então seria palco do novo capítulo da
guerra sem fim.
sergio.davila@grupofolha.com.br
SÉRGIO DÁVILA é correspondente em Washington.
Hoje, excepcionalmente, não é publicado o artigo de
Delfim Netto.
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