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São Paulo, sexta-feira, 19 de setembro de 2003

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CLÓVIS ROSSI

O sopão do crédito

SÃO PAULO - A ortodoxia em política econômica prevê reconhecer que nem todos os habitantes de um país cabem nele. Ou seja, nem todos podem ter suas necessidades de fato atendidas. Por isso, para uma porcentagem que varia conforme as circunstâncias, mas que, no Brasil, é sempre grande, sobra o "sopão", a assistência oficial que pode ou não tomar a forma de sopa.
O que o governo Luiz Inácio Lula da Silva está fazendo, ao reduzir o IPI dos automóveis e ao prometer crédito subsidiado para a compra de eletrodomésticos, não passa de uma espécie de sopão de crédito.
Falta só reconhecer que a política econômica, nos termos em que está sendo aplicada, é incapaz de promover as condições para que as empresas vendam e os consumidores comprem. Logo, sopão neles.
Como paliativo, nada contra. É melhor evitar que fechem fábricas e comércios, mesmo que seja à custa do "sopão" creditício. Mas infinitamente melhor seria ter começado, desde janeiro, a criar as condições para a recuperação da economia de forma a tornar desnecessários arranjos precários e provisórios.
O que se faz nessa direção, como as recentes reduções dos juros, vem tarde e em doses homeopáticas. Se o Banco Central tivesse reduzido os juros, há três meses, para os 20% em que os fixou anteontem, o sinal para a economia teria sido muito mais positivo e forte do que agora.
Tudo somado, parece cada vez mais evidente que a política econômica do PT é puramente defensiva. Evitou, para usar uma das muitas metáforas do presidente, que o "Titanic" Brasil batesse no iceberg, mas não foi capaz de tirá-lo do pântano da estagnação.
Ah, por falar em metáforas, já vai fazer nove meses de gestação, presidente. A tomografia mostra que a criança, em vez da cara do pai, ainda leva jeito de "herança maldita".


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