|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CLÓVIS ROSSI
O sopão do crédito
SÃO PAULO - A ortodoxia em política econômica prevê reconhecer que
nem todos os habitantes de um país
cabem nele. Ou seja, nem todos podem ter suas necessidades de fato
atendidas. Por isso, para uma porcentagem que varia conforme as circunstâncias, mas que, no Brasil, é
sempre grande, sobra o "sopão", a assistência oficial que pode ou não tomar a forma de sopa.
O que o governo Luiz Inácio Lula
da Silva está fazendo, ao reduzir o
IPI dos automóveis e ao prometer
crédito subsidiado para a compra de
eletrodomésticos, não passa de uma
espécie de sopão de crédito.
Falta só reconhecer que a política
econômica, nos termos em que está
sendo aplicada, é incapaz de promover as condições para que as empresas vendam e os consumidores comprem. Logo, sopão neles.
Como paliativo, nada contra. É melhor evitar que fechem fábricas e comércios, mesmo que seja à custa do
"sopão" creditício. Mas infinitamente melhor seria ter começado, desde
janeiro, a criar as condições para a
recuperação da economia de forma a
tornar desnecessários arranjos precários e provisórios.
O que se faz nessa direção, como as
recentes reduções dos juros, vem tarde e em doses homeopáticas. Se o
Banco Central tivesse reduzido os juros, há três meses, para os 20% em
que os fixou anteontem, o sinal para
a economia teria sido muito mais positivo e forte do que agora.
Tudo somado, parece cada vez
mais evidente que a política econômica do PT é puramente defensiva.
Evitou, para usar uma das muitas
metáforas do presidente, que o "Titanic" Brasil batesse no iceberg, mas
não foi capaz de tirá-lo do pântano
da estagnação.
Ah, por falar em metáforas, já vai
fazer nove meses de gestação, presidente. A tomografia mostra que a
criança, em vez da cara do pai, ainda
leva jeito de "herança maldita".
Texto Anterior: Editoriais: EM BUSCA DE ALIADOS
Próximo Texto: Brasília - Eliane Cantanhêde: Sem choro nem vela Índice
|