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Desmandos sem fim
Compra de dossiê contra tucanos requer apuração rápida e isenta; de novo, petistas estão envolvidos em ação gravíssima
DEPOIS DO episódio Waldomiro Diniz, do escândalo do mensalão,
dos dólares no baixo-ventre e da devassa na vida privada de um caseiro, é espantoso
que petistas estejam envolvidos
em mais um desmando gravíssimo. As primeiras investigações
sobre uma tentativa primitiva de
comprar informações de um empresário ligado à chamada máfia
dos sanguessugas envolvem o
Partido dos Trabalhadores e um
assessor direto do presidente da
República.
A impressão é que a seqüência
de escândalos que varreu as cúpulas do governo federal e do PT
em pouco mais de um ano não foi
capaz de mudar comportamentos. Nem cogitações maquiavélicas acerca dos riscos evidentes
de manobras escusas às vésperas
de uma eleição em que Luiz Inácio Lula da Silva tem grandes
chances de ser reconduzido ao
Planalto parecem prevalecer.
Duas pessoas -um militante
do PT de Mato Grosso e um advogado contratado pelo comitê
de Lula- foram presas pela Polícia Federal na madrugada de
sexta-feira, em São Paulo, com
R$ 1,7 milhão em dinheiro. O
montante seria trocado por um
dossiê supostamente envolvendo os candidatos do PSDB ao governo paulista, José Serra, e ao
Planalto, Geraldo Alckmin, no
esquema de venda de ambulâncias superfaturadas.
O advogado detido afirma ter
sido contratado pela Executiva
Nacional do PT para negociar a
aquisição do material; disse que
no pagamento também estaria
contida uma entrevista concedida dias antes a uma revista pelo
pivô do escândalo dos sanguessugas, o empresário Luiz Antonio Vedoin -que também foi
preso na capital mato-grossense.
O mais grave no depoimento
do advogado é que ele aponta, como o suposto interlocutor no PT
da compra do dossiê, para Freud
Godoy, até ontem assessor especial da Presidência e responsável
pela segurança pessoal de Lula.
Godoy admite ter tido contatos
com o denunciante, mas nega ser
o autor da compra dos papéis. A
direção do partido também se
desvincula da ação torpe.
Evidentemente, não se pode
tomar como fato a versão apresentada por uma pessoa diretamente envolvida na operação
clandestina. O depoimento do
advogado, no entanto, tem pontos que coincidem com outras
evidências -e até agora não surgiu nenhuma hipótese alternativa acerca da motivação que levou
a dupla a negociar com o empresário das ambulâncias. É por isso
que esse episódio, que mistura
gangsterismo com disputa eleitoral, precisa de uma investigação exemplar, rápida e isenta.
A velocidade com que os escândalos se repetem na política é
razão direta da impunidade. O
Congresso absolveu os mensaleiros; o PT se esquivou da depuração interna e abençoou os rebentos do valerioduto; Lula fechou-se na posição de quem ignora o que se passa no gabinete
ao lado. Vista sob esse ângulo, a
desfaçatez dos que ainda ousam
carregar malas de dinheiro sujo
para comprar delações é só rotina -uma rotina que, se não for
extirpada pelas instituições republicanas, vai lançar à vala comum a própria democracia.
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