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SERGIO COSTA
Nem Freud explica
RIO DE JANEIRO - Está faltando
mostrar a imagem das notas de dólares e reais -cerca de R$ 1,75 milhão no total- apreendidas pela PF
e que seriam usadas na compra do
dossiê para ligar tucanos e sanguessugas. Além de efeito político, fotos
de dinheirama provocam um dano
colateral nos trabalhadores sem
partido. Só assim eles conseguem
ver tanto dinheiro vivo junto.
Para a grande maioria dos assalariados, dinheiro é uma ficção, um
objeto de operações virtuais. Começa no contracheque ou holerite,
aquele papelzinho que todos recebem na véspera do pagamento, no
qual o suado dinheirinho mensal
começa a sumir ao lado de rubricas
implacáveis: IR, INSS, assistência
médica, contribuição sindical etc.
Na conta bancária, no dia seguinte, o valor do salário surge bem menor do que o numerário bruto a ele
atribuído pelo documento. Imediatamente novas baixas têm curso,
antes mesmo que se possa juntar algumas notas sobre a mesa para admirá-las como se estivessem numa
apreensão federal.
Cheques, débitos automáticos ou
documentos de transferência eletrônica se encarregam de ir raspando o saldo: aluguel ou prestação da
casa, condomínio, luz, gás, telefone,
celular, colégio, curso de inglês, cartão de crédito, carnê do carro, uma
festa. Dinheiro mesmo, só o da empregada, do porteiro que lava o carrinho e algum de bolso para pequenas despesas. Se sobrar um qualquer depois desta sangria mensal,
vai para outra abstração chamada
DI, poupança ou papel que renda
muito mais ao banco do que ao
cliente dito especial.
Por isso, a cada apreensão da PF
de "caminhões de dinheiro" para
compra de votos, dossiês, caixa dois
ou transporte em cuecas, dá para o
trabalhador ficar, além de indignado, meio complexado quando vê na
carteira, se tanto, solitária nota de
R$ 50. Freud explica?
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