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TENDÊNCIAS/DEBATES
Pega ladrão! (A chantagem eleitoral de Lula)
JORGE BORNHAUSEN
Imaginando que o jogo tinha acabado, Lula e o PT resolveram tripudiar e realizar uma intervenção criminosa na eleição
SURPREENDIDO, o ladrão antecipa-se ao alarme e grita: "Ladrão!
Pega ladrão!". Mistura-se aos
seus próprios perseguidores e se livra
da polícia. (Ou então, numa variável
da cena, usada como cortina cômica
dos picadeiros de circo de antigamente, o ator que faz o papel do descuidista ou do sedutor apanhado em flagrante de adultério grita "Fogo! Fogo!", e aproveita a confusão pra fugir.)
As cenas do repertório da velha malandragem, antes que a violência e o
narcotráfico lhes retirassem qualquer possibilidade de riso, estão sendo revividas grotescamente na atual
campanha eleitoral. Especialmente
no caso da chantagem montada pelo
PT contra Alckmin e Serra, a quem
Lula, com a maior cara-de-pau, hipotecou solidariedade de crocodilo.
É espantoso ver na TV Lula e o PT
gritando, indignados: "Baixaria! Baixaria!", quando estão mergulhados
até a cabeça no golpe. Assim como foi
em outros escândalos: mensaleiros,
vampiros, sanguessugas, valerioduto,
operação tapa-buracos, "bingueiros",
pagamentos do marqueteiro Duda
com dólares sem declaração de origem e cartilhas eleitorais de R$ 11 milhões pagas com dinheiro público e
distribuídas pelo PT, e tantos outros
casos que já perderam o benefício de
serem considerados denúncias para
se transformarem em inquéritos apurados e votados por comissões parlamentares e pelo TCU.
Tal como aconteceu no último fim
de semana, quando Lula apareceu
protestando inocência e declarando
repulsa à tentativa de chantagem envolvendo a considerável quantia de
R$ 1,7 milhão contra Alckmin e Serra.
O grave é que a PF já sabia, àquela
hora, que a trama era conduzida pelo
Palácio do Planalto, por um assessor
especial da Secretaria Particular do
presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Tal como Waldomiro Diniz -que
traficava com bicheiros e era subchefe da Casa Civil, do ex-ministro José
Dirceu, e gerou a CPI dos Correios e a
revelação dos mensaleiros-, Freud
Godoy, personagem-chave do novo
episódio da compra de um dossiê contra Geraldo Alckmin e o ex-ministro
José Serra, trabalha com o também
notório Gilberto Carvalho, secretário
particular de Lula.
Gilberto é personagem do escabroso episódio do assassinato de Celso
Daniel, ex-prefeito de Santo André.
Criou-se uma situação sem saída para
Lula, pois o próprio Freud Godoy,
acusado pelo operador da chantagem,
apanhado com o dinheiro, confessou
implicitamente ao anunciar que estava pedindo demissão do seu cargo no
Palácio do Planalto e, como Waldomiro, será exonerado "a pedido"
-com agradecimentos pelos bons
serviços, como Lula faz com todos os
corruptos que é obrigado a demitir.
O cinismo da impunidade ganha requintes nas mãos de marqueteiros
inescrupulosos. Mas, como todo golpe, há o momento em que a mentira
se confronta diretamente com a verdade e, aí, a impostura se desfaz.
Tudo indica que houve uma precipitação. Deram um passo em falso.
Imaginando que o jogo tinha acabado
-na minha opinião, não acabou, pois
haverá segundo turno, e, aí, a questão
"corrupção de Lula" versus "ética de
Alckmin" será julgada-, Lula e o PT
resolveram tripudiar e realizar uma
intervenção criminosa na eleição.
O crime perfeito consistia em desestabilizar Serra e, ao mesmo tempo,
dar oportunidade a Lula para fazer
declarações de repúdio àquela chantagem, como efetivamente fez. Com
isso, teria o pretexto para protestar
contra o uso de acusações -para ele,
"baixarias"-, relembrando os casos
de corrupção no seu governo, único
perigo temido por seus marqueteiros.
Ao se jactarem de "com o limão fizemos uma limonada", ou seja, com os
protestos da oposição pela chantagem, ainda conseguiriam que Lula
ampliasse sua própria blindagem
contra ataques. Os petistas achavam
que a questão estaria liquidada.
Gritavam, mais que as vítimas: "Pega ladrão!" (no caso, Lula declarou,
indignado: "Fora as baixarias contra
candidatos!"), e, além de criarem um
clima para que os chantagistas se safassem, ainda melhoravam a posição
na campanha eleitoral.
Dito isso, encenada a farsa da inocência compungida, continuariam
com o realejo da impostura das falsas
obras sociais, fazendo esquecer a tunda que a Petrobras está levando de
Chávez e Evo Morales, banqueteando-se com banqueiros uma vez por
semana e batendo recordes de presença de mensaleiros e sanguessugas
em seus comícios.
O azar é que a PF botou tudo a perder. Prendeu os chantagistas, e um
deles confessou seu ninho: a Secretaria Particular do próprio Lula.
Não deu para chegar impune a 1º de
outubro.
JORGE BORNHAUSEN, 68, senador pelo PFL-SC, é o presidente nacional do partido. Foi governador de Santa Catarina (1979-82) e ministro da Educação (governo Sarney) e da Secretaria de Governo da Presidência da República
(governo Collor).
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