|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
RUY CASTRO
Sacos indestrutíveis
RIO DE JANEIRO - A humanidade deve muito a uma dona-de-casa
americana chamada Margaret
Knight. Em 1869, ela resolveu um
problema que a aborrecia sempre
que voltava do mercadinho. Ao descansar o saco de ovos em cima da
pia, eles carambolavam uns sobre
os outros, quebravam-se e faziam
uma lambança sobre o tampo de
mármore. E tudo porque, segundo
um conceito categórico e eterno, os
sacos vazios não paravam em pé.
Margaret decidiu criar um saco
que, mesmo vazio, parasse em pé.
Com isso, não só derrotaria aquele
fatalismo filosófico como seus ovos
deixariam de carambolar. Assim,
com a simples inserção de uma lâmina de cartolina no fundo do saco,
inventou o saco de fundo chato. O
saco ficou em pé, os ovos se acomodaram com perfeição e, graças a
Margaret, as donas-de-casa levaram os cem anos seguintes felizes
da vida com seus sacos de papel
pardo, que passaram a servir para
transportar tudo, inclusive ovos.
Até que, a partir de 1970, os sacos
plásticos substituíram os de papel
e, além de não parar em pé, soterraram o planeta com sua vulgaridade,
feiúra e, olha só, indestrutibilidade.
Julgando-os "descartáveis", só há
pouco descobrimos que cada um levará cerca de 500 anos na natureza
até ser absorvido por ela -se um
dia o for.
Mas nem tudo se perdeu. O governo do Estado do Rio (por cujo
comércio circulam um bilhão de sacos plásticos por ano, intoxicando
mares, rios, parques, matas e trilhas) acaba de entrar com um projeto de lei propondo a substituição
desses sacos por outros feitos de
material orgânico e reutilizável, como malva ou algodão. Por inevitável, prevê multas pesadas para os
comerciantes que não aderirem.
Esse projeto precisa passar, para
servir de exemplo. E melhor ainda
se os novos sacos tiverem o fundo
chato e pararem em pé.
Texto Anterior: Brasília - Melchiades Filho: Zerocameralismo Próximo Texto: Antonio Delfim Netto: Valor do trabalho Índice
|