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"Perversão" na igreja
As mais recentes declarações
do papa Bento 16 sobre os casos de
pedofilia na Igreja Católica são
uma bem-vinda demonstração de
que a instituição decidiu definitivamente deixar o papel de vítima
e enfrentar o problema.
Na semana que passou, a igreja
da Bélgica, como já fizera a da Irlanda, viu-se forçada a pedir perdão às vítimas de décadas de abusos. O país teve 475 denúncias de
molestação de menores por sacerdotes nos últimos 50 anos, e estima-se que ao menos 13 suicídios
estejam ligados à prática.
Desde março, a Igreja Católica
vem sendo sacudida por uma onda de denúncias de episódios de
pedofilia, principalmente em países europeus, mas também em outros lugares, como os EUA e o próprio Brasil. Mais do que os casos
de abuso, que, por numerosos que
sejam, podem ainda ser atribuídos a desvios individuais dos religiosos, a Santa Sé foi abalada pela
revelação de que altas autoridades eclesiásticas agiram com lentidão ou foram omissas na punição aos infratores.
No início, o Vaticano chegou a
falar em campanha orquestrada
da imprensa contra o papa. O próprio Bento 16 disse que não se deixaria intimidar por "fofocas".
A mudança de comportamento,
iniciada em abril, quando o papa
declarou ser a igreja uma "pecadora ferida" que precisa cumprir
penitência, se solidifica agora
com o mais recente mea-culpa do
pontífice. No avião que o levava ao
Reino Unido para visita de Estado,
ele expressou "tristeza porque as
autoridades da igreja não foram
suficientemente vigilantes nem
rápidas e decisivas para tomar as
medidas necessárias".
A admissão das falhas soma-se
à mudança, em julho, das normas
do Vaticano, facilitando a expulsão de padres suspeitos de abusar
de menores. O reconhecimento da
existência de um problema grave
no seio da igreja e a disposição de
combatê-lo duramente são bons
passos para evitar que continue
ocorrendo a "perversão" denunciada pelo papa.
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