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EMÍLIO ODEBRECHT
Os jovens e a tecnologia
Na convivência com os jovens de hoje tenho percebido
que o nível de preparo que demonstram é muito superior ao
que tivemos no passado. Antes, e incluo aí minha geração,
o acesso ao conhecimento era
direito de poucos. Felizmente,
essa possibilidade vai paulatinamente se democratizando
pelos investimentos que têm
sido feitos em educação.
Com isso, as moças e rapazes de nossos dias estão construindo uma visão de mundo
muito mais rica e diversificada, livre do dogmatismo de
ideias que se via até recentemente, e sinto que já não se
deixam aprisionar por ideologias fechadas e autoritárias, à
direita ou à esquerda: antes,
estão dispostos a protagonizar
a reforma de nossa sociedade
em direção a um Brasil mais
justo, de forma gradativa e
contínua.
Vale acrescentar que, dominando o uso da tecnologia no
trabalho, conseguiram elevar
a produtividade a níveis dificilmente imaginados antes do
advento da revolução digital
que marcou as duas últimas
décadas.
Mas, chegando a este ponto, tenho de deter-me e externar um reparo a essa juventude, sem prejuízo do reconhecimento que acabo de lhe fazer.
O tecnicismo extremo pode
contaminar a interpretação da
realidade, que é multifacetada
e que no mundo produtivo se
constrói em três âmbitos: o político-estratégico, o estratégico-empresarial e o empresarial-operacional. São dimensões da vida corporativa que
têm de ser consideradas na
perspectiva do equilíbrio entre si, equilíbrio esse que confere sentido às decisões -porque mais importante que a decisão são as razões que fizeram com que fosse tomada.
A
mesma lógica serve para que
cada um compreenda melhor
os próprios desafios e consiga
formular seu plano de vida e
carreira.
Todos os empresários e todos os profissionais devem encarar suas responsabilidades
num contexto de interdependência e serem capazes de
construir uma visão integrada
e integradora das pessoas, do
trabalho que realizam e da comunicação entre elas. Quem
se deixa seduzir somente pelo
avanço tecnológico corre o risco de abrir mão da disciplina
de refletir sobre o que faz e se
enclausurar em compartimentos que o impeçam de ver o todo.
Não nos esqueçamos, também, que a comunicação virtual empobrece terrivelmente
os relacionamentos.
É preciso, portanto, que os
jovens procurem harmonizar
a tecnologia que agiliza os
processos com a crença na
qualidade das decisões debatidas e tomadas por todos em
torno de uma mesa; na importância das conversas face a face sobre os rumos a seguir e no
valor do contato humano que
gera amizade e lealdade, dentro e fora do local de trabalho.
EMÍLIO ODEBRECHT escreve aos domingos
nesta coluna.
emilioodebrecht@uol.com.br
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