São Paulo, domingo, 19 de setembro de 2010

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EMÍLIO ODEBRECHT

Os jovens e a tecnologia

Na convivência com os jovens de hoje tenho percebido que o nível de preparo que demonstram é muito superior ao que tivemos no passado. Antes, e incluo aí minha geração, o acesso ao conhecimento era direito de poucos. Felizmente, essa possibilidade vai paulatinamente se democratizando pelos investimentos que têm sido feitos em educação.
Com isso, as moças e rapazes de nossos dias estão construindo uma visão de mundo muito mais rica e diversificada, livre do dogmatismo de ideias que se via até recentemente, e sinto que já não se deixam aprisionar por ideologias fechadas e autoritárias, à direita ou à esquerda: antes, estão dispostos a protagonizar a reforma de nossa sociedade em direção a um Brasil mais justo, de forma gradativa e contínua.
Vale acrescentar que, dominando o uso da tecnologia no trabalho, conseguiram elevar a produtividade a níveis dificilmente imaginados antes do advento da revolução digital que marcou as duas últimas décadas. Mas, chegando a este ponto, tenho de deter-me e externar um reparo a essa juventude, sem prejuízo do reconhecimento que acabo de lhe fazer.
O tecnicismo extremo pode contaminar a interpretação da realidade, que é multifacetada e que no mundo produtivo se constrói em três âmbitos: o político-estratégico, o estratégico-empresarial e o empresarial-operacional. São dimensões da vida corporativa que têm de ser consideradas na perspectiva do equilíbrio entre si, equilíbrio esse que confere sentido às decisões -porque mais importante que a decisão são as razões que fizeram com que fosse tomada.
A mesma lógica serve para que cada um compreenda melhor os próprios desafios e consiga formular seu plano de vida e carreira.
Todos os empresários e todos os profissionais devem encarar suas responsabilidades num contexto de interdependência e serem capazes de construir uma visão integrada e integradora das pessoas, do trabalho que realizam e da comunicação entre elas. Quem se deixa seduzir somente pelo avanço tecnológico corre o risco de abrir mão da disciplina de refletir sobre o que faz e se enclausurar em compartimentos que o impeçam de ver o todo.
Não nos esqueçamos, também, que a comunicação virtual empobrece terrivelmente os relacionamentos.
É preciso, portanto, que os jovens procurem harmonizar a tecnologia que agiliza os processos com a crença na qualidade das decisões debatidas e tomadas por todos em torno de uma mesa; na importância das conversas face a face sobre os rumos a seguir e no valor do contato humano que gera amizade e lealdade, dentro e fora do local de trabalho.

EMÍLIO ODEBRECHT escreve aos domingos nesta coluna.

emilioodebrecht@uol.com.br


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