São Paulo, domingo, 19 de setembro de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

TENDÊNCIAS/DEBATES

O brasileiro que inventou o rádio

EDUARDO RIBEIRO e HAMILTON ALMEIDA


Ao transmitir a voz, Landell de Moura se diferenciou de Marconi; este inventou o telégrafo sem fios, e não o rádio tal como o conhecemos


O dia 21 de janeiro de 2011 marcará os 150 anos de nascimento de um dos maiores cientistas brasileiros, ignorado pela história e pela gente de seu país. Seu nome é Roberto Landell de Moura (1861-1928), nascido em Porto Alegre, padre de formação que completou os estudos em Roma, especializando-se em física e química.
Com o conhecimento teórico e a inquietude dos que estão à frente de seu tempo, transmitiu a voz humana à distância, sem fio, pela primeira vez no mundo. Foi também pioneiro ao projetar aparelhos para a transmissão de imagens (a TV) e textos (o teletipo).
Previu que as ondas curtas poderiam aumentar a distância das comunicações e também utilizou-se da luz para enviar mensagens, princípio das fibras ópticas. Tudo está documentado por patentes, manuscritos, noticiário da imprensa no Brasil e no exterior e testemunhos.
As pioneiras transmissões de rádio aconteceram no final do século 19, ligando o alto de Santana -o Colégio Santana- à emblemática avenida Paulista, que hoje abriga diversas antenas de emissoras de rádio e de TV.
Ao transmitir a voz, Landell se diferenciou de Marconi. O cientista italiano inventou o telégrafo sem fios, ou seja, a transmissão de sinais em código Morse (conjunto de pontos e traços), e não o rádio tal como o conhecemos.
As experiências do padre Landell não sensibilizaram autoridades e nem patrocinadores. Pior: um grupo de fiéis achou que o padre "falava com o demônio" e destruiu os seus aparelhos.
Mesmo tendo patenteado o rádio no Brasil (em 1901), Landell não obteve reconhecimento. Decidiu, então, viajar para os Estados Unidos, onde conseguiu, em 1904, três cartas-patentes. De volta ao Brasil, quis fazer uma demonstração das suas invenções no Rio de Janeiro, mas, por erro de avaliação, o governo não lhe deu a oportunidade.
Depois, seria "forçado" a abandonar as experimentações científicas. Morreu no ostracismo e o Brasil importou tecnologia para entrar na era das radiocomunicações! O Brasil tem agora a oportunidade de reconhecer a obra científica de Landell e incluir os seus feitos no currículo escolar obrigatório do ensino básico.
É por isso que luta o MLM - Movimento Landell de Moura, integrado por voluntários de diferentes áreas, que construiu um site (www.mlm.landelldemoura.qsl.br) para angariar assinaturas em prol desse reconhecimento.
Vale registrar que o movimento não tem fins político-partidários, religiosos, financeiros ou de promoção pessoal. Paralelamente, os Correios asseguram uma conquista: a emissão de um selo comemorativo dos 150 anos de nascimento de Landell.
Também está em curso no Congresso Nacional a inclusão do nome do padre-cientista no Livro dos Heróis da Pátria, por proposição do senador Sérgio Zambiasi.

EDUARDO RIBEIRO, 55, é jornalista. Dirige a newsletter "Jornalistas&Cia", que se associou ao MLM - Movimento Landell de Moura.

HAMILTON ALMEIDA, 56, é jornalista e escritor. Autor do livro "Padre Landell de Moura: Um Herói Sem Glória" (Ed. Record) e de outras três obras sobre o padre.


Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br

Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES
Xico Graziano: História mal contada

Próximo Texto: Painel do Leitor
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.