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São Paulo, domingo, 19 de outubro de 2003

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O DESAFIO DO EMPREGO

Há um forte movimento de opinião nos Estados Unidos contrário à exportação de empregos para outros países. As dificuldades recentes da economia dos EUA, com repercussões sobre a oferta de trabalho, ajudaram a reforçar a percepção de que empresas norte-americanas estariam sendo até mesmo antipatrióticas ao se instalarem no exterior, caso do México e, especialmente, da China e dos países asiáticos. O "boom" de exportações chinesas, muitas realizadas por grupos americanos, estimulou a apresentação de projetos de conteúdo protecionista tanto na Câmara como no Senado.
Um recente estudo da empresa Alliance Capital Management, dos EUA, sugere que a exportação de empregos, embora de fato ocorra, não deveria ser vista como a principal responsável pela redução da oferta de postos de trabalho na indústria. De fato, dados fornecidos pela empresa, publicados pelo jornal "Valor", confirmam que o encolhimento do emprego industrial não é um fato localizado, mas um conhecido fenômeno global, já detectado nos últimos anos, que continua em curso.
A análise constata que, entre 1995 e 2002, cerca de 22 milhões de empregos industriais foram eliminados em 20 países pesquisados. Mesmo na China, vista como vilã pelos norte-americanos, houve o fechamento de 16 milhões de postos na indústria de transformação durante esse período. A queda global do emprego industrial foi acompanhada de um aumento de 30% na produção, demonstrando, mais uma vez, a tendência de elevação da produtividade baseada em ganhos tecnológicos e aperfeiçoamento de processos.
Nos Estados Unidos, de acordo com o estudo, a produção real da indústria cresceu 77% mesmo com o fechamento de 22% das vagas verificado desde 1979. Movimento semelhante ocorreu na agricultura, com elevação de 96% da produção e diminuição de 31% dos empregos.
Essa tendência foi largamente prevista por economistas, sendo célebre, a propósito, a utopia marxista de um futuro no qual as sociedades, eliminados os antagonismos de classe e conquistados altos padrões de uso da máquina na produção, poderiam liberar seus cidadãos do fardo do trabalho mecânico e alienado para que gozassem de forma mais consciente e criativa o tempo livre.
Certamente esse paraíso terreno imaginado por Karl Marx não está no horizonte. Em que pese a crescente transferência de empregos da indústria para outros setores, notadamente o de serviços, o problema da oferta de trabalho permanece como um dos graves desafios do século que se inicia, atingindo, ainda que com consequências diversas, tanto os países ricos como os pobres.


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