|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CLÓVIS ROSSI
Uma falsa questão
SÃO PAULO - Não houve, desde o
voto de 1º de outubro, nenhum fato
novo a favor de Lula capaz de explicar o salto de 7 pontos a seu favor,
nas urnas, para os 20 pontos da
mais recente pesquisa.
Todas as bondades de seu governo (algumas reais, outras pura propaganda) já haviam sido expostas à
exaustão. Logo, parece razoável
atribuir o salto a uma queda de Geraldo Alckmin, sobre cuja candidatura, aí, sim, incidiu um dado novo:
a campanha adversária colou nele
(e no tucanato em geral) o rótulo de
"privatista".
Privatizações não gozam de boa
imagem não só no Brasil mas no
conjunto da América Latina, conforme mostraram pesquisas do
"Latinobarômetro", que faz a medida mais conceituada do humor do
subcontinente.
Se essa percepção é correta, o
centro do debate eleitoral estará girando em torno de uma falsa questão. Não há demanda pela privatização do que restou (basicamente
Petrobras, Banco do Brasil, Caixa e
Correios). Não há demanda porque
são empresas lucrativas, que, ao
contrário de estatais privatizadas
antes, não sangram o Tesouro.
Além disso, é óbvio que a privatização ou a manutenção das quatro
jóias restantes da coroa do Estado
brasileiro não afeta, a não ser talvez
marginalmente, o problema central, que é crescimento com menos
desigualdade, menos miséria e mais
segurança.
O crescimento foi pífio com essas
empresas todas em mãos do Estado, e a desigualdade manteve-se
obscena. Se a miséria caiu (pouco,
mas caiu) foi, primeiro, pelo controle da inflação e, depois, por programas tipo Bolsa Família.
Idênticos problemas se mantiveram depois da privatização das teles, siderurgia etc. Se teria sido melhor ou pior de outra forma é impossível saber.
Tudo somado, tem-se que a campanha não forneceu indícios de como se vai desatar o nó brasileiro.
crossi@uol.com.br
Texto Anterior: Editoriais: Ajuste no IPTU
Próximo Texto: Brasília - Eliane Cantanhêde: Voltando à vaca fria Índice
|