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RICARDO MELO
Império da mentira
SÃO PAULO - Por sorte ou por azar,
a depender do ponto de vista, convivi ao longo dos anos com muita
gente ligada às campanhas de Dilma Rousseff e José Serra. Épocas
em que os interesses imediatos, e
materiais, eram bem menores, inversamente proporcionais ao idealismo que movia o pessoal.
Mas nada como formalidades
eleitorais para revelar como pessoas, assim como certos vinhos,
também podem piorar com a idade.
Dilma e Serra têm um passado
sobejamente conhecido. Ambos fizeram parte de organizações de esquerda, defenderam as liberdades,
correram risco de vida (ou de morte, conforme a redação em que se
trabalha). Foram ateus, sim senhor
(e devem ser até hoje). Eram contra
o aborto? Certamente não -como
todo mundo que não presta contas
a dogmas obscurantistas.
Serra distribuindo santinhos louvando a Deus não passaria pela cabeça de ninguém, a não ser como
forma de disfarçar, no verso, algum
panfleto a favor da UNE.
Dilma posando de carola dentro
de basílicas, só se fosse para escapar da perseguição do infame
DOI-Codi.
Hoje tudo isso, e muito mais, virou "sujeira a esconder debaixo do
tapete". Num período em que até
um país conservador como Portugal aprovou lei pró-aborto, por aqui
o que vale é o império da mentira.
Todos estamos sujeitos a mudanças, balanços, reavaliações. Mas
transformações que ocorrem para o
lado errado, e de forma tão dissimulada, não chegam nem a causar
indignação, tampouco perplexidade. Só reforçam o descrédito diante
dos políticos de nosso dia a dia.
O povo, claro, não quer perder o
Bolsa Família nem o modesto progresso material dos anos recentes.
Ao mesmo tempo, discorda da roubalheira generalizada que se instalou sob o "nepetismo". Escolha difícil. Nessas horas, a abstenção costuma ser a melhor alternativa.
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