São Paulo, terça-feira, 19 de outubro de 2010

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RICARDO MELO

Império da mentira

SÃO PAULO - Por sorte ou por azar, a depender do ponto de vista, convivi ao longo dos anos com muita gente ligada às campanhas de Dilma Rousseff e José Serra. Épocas em que os interesses imediatos, e materiais, eram bem menores, inversamente proporcionais ao idealismo que movia o pessoal.
Mas nada como formalidades eleitorais para revelar como pessoas, assim como certos vinhos, também podem piorar com a idade.
Dilma e Serra têm um passado sobejamente conhecido. Ambos fizeram parte de organizações de esquerda, defenderam as liberdades, correram risco de vida (ou de morte, conforme a redação em que se trabalha). Foram ateus, sim senhor (e devem ser até hoje). Eram contra o aborto? Certamente não -como todo mundo que não presta contas a dogmas obscurantistas.
Serra distribuindo santinhos louvando a Deus não passaria pela cabeça de ninguém, a não ser como forma de disfarçar, no verso, algum panfleto a favor da UNE.
Dilma posando de carola dentro de basílicas, só se fosse para escapar da perseguição do infame DOI-Codi.
Hoje tudo isso, e muito mais, virou "sujeira a esconder debaixo do tapete". Num período em que até um país conservador como Portugal aprovou lei pró-aborto, por aqui o que vale é o império da mentira.
Todos estamos sujeitos a mudanças, balanços, reavaliações. Mas transformações que ocorrem para o lado errado, e de forma tão dissimulada, não chegam nem a causar indignação, tampouco perplexidade. Só reforçam o descrédito diante dos políticos de nosso dia a dia.
O povo, claro, não quer perder o Bolsa Família nem o modesto progresso material dos anos recentes. Ao mesmo tempo, discorda da roubalheira generalizada que se instalou sob o "nepetismo". Escolha difícil. Nessas horas, a abstenção costuma ser a melhor alternativa.


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