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VINICIUS MOTA
Polarização à americana
O PSDB é um partido popular. Essa é uma verdade límpida para quem acompanha as
disputas presidenciais nos últimos 16 anos.
Não costuma ser expressa
desse modo porque, como disse à revista "Veja" o escritor
Mario Vargas Llosa, "a esquerda fracassou em tudo, menos
no controle da cultura". É custoso desafiar a sentença segundo a qual o PSDB é elitista.
Nenhuma legenda de elite
obteria, ao longo de cinco eleições presidenciais sucessivas,
duas vitórias e três qualificações para segundo turno -angariando apoio em torno de
40% do eleitorado nas duas vezes em que perdeu.
Eleitores cuja renda mensal
familiar supera dez salários
mínimos (R$ 5.100) não chegam a 5% no país. De acordo
com o Datafolha, Serra é preferido por 36 em cada 100 eleitores na faixa de renda familiar
até dois mínimos (R$ 1.000).
Aí está cerca de metade do eleitorado.
No estrato logo acima -de
R$ 1.000 até R$ 2.500-, que
concentra um terço dos votantes, Serra empata com Dilma.
Como o poder de compra do
mínimo é menor no Sudeste,
onde o tucano vai melhor, do
que no Nordeste, onde prevalece a petista, a disputa no
vasto segmento popular é ainda mais apertada.
Considerando esse universo popular -elites fora, portanto-, a fatia de votos de Lula em 2006 e de Dilma em 2010
sobe conforme o poder de
compra cai. É cedo para firmar
a partir daí o que seria um "padrão petista", pois também foi
sólida a maioria tucana obtida
nos segmentos de mais baixa renda em 1994 e 1998.
Parece que o partido que
traz boas novas -o Real com
FHC e o vigor do emprego e da
renda com Lula- obtém nas
urnas apoio de baixo para cima. A despeito disso, o opositor, PT ou PSDB, possui força e
penetração popular suficientes para polarizar a disputa.
Dilma e Serra estão próximos de dividir o eleitorado nacional neste momento. O tucano precisaria tirar da petista
cerca de 4 milhões de votos,
num total de 100 milhões, para virar. Essa partilha quase
salomônica da preferência popular, associada ao histórico
da polarização entre PT e
PSDB, lembra o padrão eleitoral dos Estados Unidos.
Falta, na comparação, um
contraste ideológico mais nítido entre petistas e tucanos. Os
primeiros saem na frente e
abraçam um paternalismo governamental que vai além da
garantia de condições equivalentes de partida entre os cidadãos. O PT dificilmente deixará de ser competitivo assim.
Mas a população brasileira está em transição; a renda dos pobres evolui mais depressa.
O contexto facilita a absorção de ideias como a de que a ascensão social deve ser um prêmio ao esforço do trabalho e do estudo -e de que a interferência do governo, nos impostos e em outros aspectos, deve
ser limitada.
VINICIUS MOTA é secretário de Redação da
Folha.
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