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ELIANE CANTANHÊDE
A luta continua
CARTAGENA - Como alertara Ignacy Sachs à Folha.com, o mundo
está sentado sobre duas bombas-relógios: os EUA e a China.
Com um argumento comercial,
Celso Amorim analisa que os problemas brasileiros estão muito
mais nos EUA que na China: o Brasil deve fechar o ano com um saldo
positivo de cerca de US$ 7 bi com a
China e com um deficit de US$ 5 bi
com os EUA -o maior superavit
norte-americano no mundo. Este,
porém, é um corte de momento. A
médio e longo prazo, o que se vê é
um leão perdendo os dentes e um
tigre cada vez mais voraz.
Os EUA são ainda uma potência,
inequivocamente, mas exportaram
uma crise financeira para todo o
mundo e perderam 10 milhões de
empregos em três anos. Seu futuro
aponta para o declínio.
Na outra mão, a China continua
em ascensão e atordoa pelo equilíbrio esquizofrênico entre economia
e política e por sua ocupação de espaços sem limites. Exemplo: invadiu a África, rica em petróleo e minérios e pobre de todo o resto. Ali o
acesso é fácil, e o lucro, garantido.
Até aqui, o Brasil se relaciona
alegremente com a China nos Bric
(Brasil, Rússia, Índia e China), satisfeito com os fantásticos superavits comerciais. Mas há o reverso da
moeda: onde produtos chineses sobem, os brasileiros tendem a cair.
E a China está para dar mais um
passo na sua estratégia de potência: até aqui, tem sido o oportuno
comprador de matérias-primas; a
partir de agora, vai passar não apenas a importar produtos mas a exportar fábricas. Vai comprar seus
próprios produtos industrializados.
Já na primeira entrevista após a
vitória, Lula e Dilma criticaram a
"guerra cambial" dos EUA e da China. A crítica, que não é só do Brasil,
não levou a nada concreto em Seul.
Mas foi uma sinalização.
Os demais ricos e os emergentes
vão se articular para impedir uma
neobipolaridade mundial, agora
entre os EUA e a China, com o resto
pagando o pato. A luta continua.
elianec@uol.com.br
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