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Epidemia de gastos
Explosão de gastos do INSS com auxílio-doença ressalta a necessidade de melhorias na gestão da máquina pública
O
DISPÊNDIO público
anual com o auxílio-doença -pagamentos
aos trabalhadores que
se afastam por mais de 15 dias-
saltou de R$ 2,5 bilhões em 2002
para R$ 12,5 bilhões em 2005,
montante que deve repetir-se
neste ano. A média mensal, em
torno de 600 mil benefícios há
quatro anos, ultrapassou 1,6 milhão em outubro do ano passado.
Além disso, distorções na forma de cálculo estabelecida em lei
levaram 51,2% dos beneficiados
a receber do INSS estipêndios
30% maiores do que o seu salário
na ativa. Esse mesmo problema
ocorreu com as indenizações por
acidentes de trabalho. Nesse caso, o percentual dos que receberam mais do INSS do que de seus
empregadores chega a 47,2%.
Para tentar conter a sangria de
recursos, no final de 2005 o governo acabou com a terceirização na perícia médica e realizou
concursos para a contratação de
especialistas. Exigiu laudos mais
criteriosos e estipulou prazos determinados para a volta ao trabalho em alguns tipos de licença.
Como o próprio ministro da
Previdência, Nelson Machado,
reconhece, parte dessa expansão
absurda na concessão dos benefícios esteve associada a fraudes.
É evidente que não houve, no período, um aumento explosivo de
doenças na população brasileira.
Uma força-tarefa, integrada
por agentes da Polícia Federal,
fiscais do INSS e procuradores
do Ministério Público, investiga
a atuação de quadrilhas de falsificação de auxílios-doença em
vários Estados. É imperativo
desmontar o mais rapidamente
possível essa indústria de concessões de auxílios-doença.
O desperdício de recursos com
as fraudes, no entanto, é apenas a
ponta do iceberg, a distorção
mais evidente. A melhora na gestão dos benefícios -um direito
dos trabalhadores- exige ações
complementares, tais como a
melhora na forma de cálculo dos
benefícios, o estabelecimento de
um teto para o pagamento dos
auxílios-doença, perícias periódicas para acompanhar a reabilitação dos trabalhadores e a imediata eliminação do pagamento
após a recuperação da saúde do
beneficiário.
Para desestimular a busca pelo
benefício, o INSS indicou também que pretende convocar os
aposentados por invalidez para
exames periódicos. O objetivo
seria verificar a recuperação dos
segurados e, com isso, reduzir os
gastos com o pagamento desse
seguro. O critério de corte deve
levar em conta o grau de recuperação do aposentado e por quanto tempo ele recebeu o benefício.
O governo estima que possa
haver uma redução em torno de
R$ 3 bilhões provenientes apenas do aperfeiçoamento na gestão em torno do auxílio-doença
em 2007. A cifra é otimista. O
mais importante, no entanto, é
que a cultura de otimizar despesas públicas se generalize e se
aprofunde na máquina federal,
ainda avessa a esses controles.
Se isso ocorrer, o montante de
fato poupado se tornará relevante no ajuste das contas públicas.
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