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CLÓVIS ROSSI
Falar e fazer nas Américas
COSTA DO SAUÍPE - Apenas para que o leitor saiba com quem está
falando, já fui um entusiasta da integração latino-americana, já achei
bacana a canção de Caetano Veloso
"Soy loco por ti, América".
O tempo de estrada na "Nuestra
América", que é muito mais do que
gostaria de lembrar, introduziu, no
entanto, uma pitada forte de ceticismo. Nada contra a integração,
que fique claro. Já que falei de canções, acredito em um verso cantado
pela mexicana Amparo Ochoa
(1946/1994) que diz: "Juntos, codo
a codo, somos mucho más que dos"
(codo é cotovelo).
O problema é o excesso de retórica. Escutar os presidentes da América Latina e do Caribe discursando
interminavelmente nas multicúpulas da Bahia termina sendo um tormento, mesmo quando se trata de
uma líder articulada como Cristina
Fernández de Kirchner. Ela abriu
sua fala dizendo, com toda a razão,
que era preciso "um sistema de decisões" para o grupo, em vez de apenas um espaço de reflexão.
Mas girou em torno da frase interminavelmente sem sair do lugar.
De todo modo, o excesso de retórica, raramente transformada em
ação, é um mal menor ante a idéia
de líderes como Hugo Chávez de
buscar soluções latino-americanas
(e caribenhas, claro) para os problemas da região.
Não existem problemas latino-americanos. Existem problemas
universais (fome, miséria, violência, desigualdade, devastação ambiental e uma vasta lista de etc., aos
quais se soma agora a crise econômico-financeira também global).
Podem ser problemas mais graves
em "Nuestra América", mas continuam sendo universais.
Nada contra que as soluções sejam de esquerda, embora seja cada
vez mais difícil definir o que é esquerda, desde que consigam convencer o mundo, não só a América,
de que são as melhores. Do contrário, vai-se ficar eternamente reinventando a roda -e falando.
crossi@ol.com.br
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