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RUY CASTRO
A ilusão impressa
RIO DE JANEIRO - A Justiça britânica proibiu um anúncio de creme antirrugas com a modelo
Twiggy. Nele, ela ostenta uma pele
de louça, insinuando que, aos 60,
agradece ao tal creme por isso. Só
que Twiggy é muito popular na Inglaterra e suas fotos saem na imprensa. E, nestas, sem photoshop,
ela revela seus pés-de-galinha,
rugas, pregas, verrugas, olheiras e
manchas.
O anúncio foi condenado por
mentir -sem o retoque digital,
Twiggy não é tão louçã- e por fazer
com que as mulheres tenham uma
"percepção negativa do envelhecimento". Bem, depende da mulher.
Conheço várias que, aos 60, estão
tranquilas em ser como são e não
sofrem com inveja dos aviões que
veem nas fotos. Sabem que nem
tudo é real.
De 1969 até outro dia, fui colaborador, repórter ou editor das principais revistas masculinas: "Fairplay"
(a pioneira), "Ele/Ela", "Status" e
"Playboy". Era íntimo dos fotógrafos, diretores de arte e produtoras
encarregados de tornar ainda mais
perfeitas aquelas mulheres. Não
existia photoshop e, com isso, exigiam-se certos truques.
Segundo eles, maquiava-se a mulher de cima abaixo para esconder
imperfeições. Depois, afinava-se a
luz para tornar um busto mais rijo
ou disfarçar um bumbum achatado.
Ao fotografar, escolhiam-se as poses que melhor realçassem as curvas e os volumes. E, depois disso tudo, ainda vinham os retoques à mão
no fotolito, no que Carlos Grassetti,
da "Playboy", era um mestre.
A mais difícil de corrigir foi uma
mulher de fulminante, mas curtíssima fama no finzinho dos anos 80
-um foguete que todo o Brasil quis
ver. E que, a rigor, não viu, porque a
deusa -na vida real, um festival de
estrias, celulite, escoriações, furúnculos, marcas de vacina, chupões,
roxos e cicatrizes de apêndice, bala
e navalhada- só existia na página
impressa.
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