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CARLOS HEITOR CONY
O santo do dia
RIO DE JANEIRO - Sem entender
muito do assunto, sempre estranhei
as diferentes formas de tortura e
martírio que os homens inventaram
para punir aqueles que não pensam
com a circunstancial maioria de determinada sociedade.
O exemplo mais conhecido, mas me
parece que atualmente desativado, é
a crucificação. São poucos os crucificados na história -o mais conhecido
até hoje é crucificado todos os dias
com os nossos pecados.
São Lourenço foi assado como um
frango na brasa, são Paulo, degolado
como uma galinha. Alguns foram
queimados em fogueiras, outros foram enterrados vivos, afogados, estripados. A imaginação do homem é
fértil quando se trata de castigar outros homens.
Hoje é Dia de São Sebastião. Não
tenho certeza, parece que é o único
mártir cristão que morreu flechado.
Sua imagem é impressionante, o corpo atlético e nu varado de flechas -a
simbologia fez dele, paradoxalmente,
padroeiro da cidade do Rio de Janeiro e ícone dos homossexuais.
Explica-se: os portugueses avistaram aquilo que pensavam ser a foz
de um rio, largo como o Tejo quando
desemboca no Atlântico. E, como era
janeiro, e Dia de São Sebastião, chamaram o lugar de São Sebastião do
Rio de Janeiro. Simples.
Mais complicada é a atração que os
homossexuais criaram pelo santo,
um centurião romano que se negara
a queimar incenso aos ídolos pagãos.
Colega dele, são Quadrato era também centurião, foi martirizado, mas
não colou. Ignoro a existência de
qualquer devoto dele.
Já ouvi algumas teorias sobre a empatia que os homossexuais têm pelo
santo. São filhos de Deus, como os heterossexuais, e um dos pontos positivos de nosso tempo é a aceitação da
homossexualidade como direito de
qualquer pessoa humana.
Admiro os devotos do santo, mas
não pertenço à legião de seus admiradores. Devoto sou da minha cidade. Só implico quando a xingam de
Sebastianópolis. Sou carioca. Sebastianopolitano é a mãe.
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