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CLÓVIS ROSSI
Cadê a neve que estava aqui?
GENEBRA - Faz 18 anos consecutivos que venho, sempre em janeiro, à Suíça. Sempre peguei um frio
de congelar pingüim. Na primeira
vez, voltava da cobertura da Guerra
do Golfo (a primeira), com roupa
insuficiente e com o corpo ainda geneticamente tropical.
Saí para mudar minha passagem
de volta ao Brasil, entrei na loja da
Iberia no centro de Zurique e quase
beijei os pés da moça que me atendeu quando ela disse que a mudança seria demorada.
Poderia ficar um tempão no
quentinho proporcionado pela calefação, sem precisar encarar de
volta o frio da rua.
Depois fui comprando o que chamo "enxoval de Davos" (a cidadezinha onde se reúne o Fórum Econômico Mundial, nos Alpes): camisetas térmicas, sapato reforçado (que
até fica mofado, porque é usado
uma vez ao ano), paletó de lã.
Neste ano, poderia ter deixado
parte do enxoval em casa. Faz frio,
sim, mas ontem pelo menos ficou
sempre perto dos dez graus (positivos), o que, de resto, está acontecendo desde que começou o inverno, em dezembro, faz um mês.
A calefação, por isso, em vez de
ser um bálsamo, é um incômodo,
até porque o pessoal da terra parece
que a deixa no piloto automático,
como se lá fora fizesse o frio que deveria fazer.
O paletó de lã pesa em vez de
abrigar e aconchegar.
O Mont Blanc, cartão postal indefectível de Genebra, de branco neste ano não tem nada. Nem ele nem
os demais picos que cercam a cidade. Estão todos marrons, isto sim,
porque a neve é tão escassa que só
está caindo, assim mesmo pouca,
nos pontos acima de 2.000 metros.
Amigos que vivem em Genebra
há anos também estranham o clima. Na rua, você vê o pessoal afrouxando o cachecol e desabotoando o
casaco -que dez graus é refresco.
Não é preciso estudo científico
para sentir-se enviado especial ao
efeito estufa.
crossi@uol.com.br
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