São Paulo, quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

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Organização urgente

Prover comida e ordem e evitar cacofonia de boas intenções são desafios da comunidade mundial após catástrofe no Haiti

A CARÊNCIA de água, comida e abrigo, que atinge milhões de haitianos, tornou-se a principal fonte dos surtos de violência no país arrasado pelo terremoto. Acabou na prática -embora infelizmente não no debate diplomático- a distinção entre a tarefa de restabelecer a ordem e a de levar ajuda humanitária.
Sem o aumento rápido do contingente de policiais e militares estrangeiros no país, de um lado, e a estruturação de uma logística eficiente de distribuição de alimentos, do outro, os saques, os assassinatos e a selvageria na disputa por comida não vão cessar. As forças de segurança precisam escoltar equipes humanitárias e organizar a oferta de ajuda, a fim de que ela chegue depressa aos necessitados -e que não sirva de estopim para mais violência.
Agiu bem, portanto, o Conselho de Segurança da ONU ao autorizar, ontem, o reforço emergencial de tropas estrangeiras sob sua responsabilidade no Haiti. A chegada de 2.000 soldados e 1.500 policiais elevará, para 9.000 militares e 3.500 agentes de polícia, o contingente da força internacional. Como a efetivação dessa medida levará algum tempo, tem sido crucial o imediato aporte de tropas americanas, que hoje deverão superar 13.000, embora mais da metade mantenha-se embarcada em navios.
O terremoto de 12 de janeiro derrubou a torre de controle do aeroporto de Porto Príncipe, comprometeu a maior parte das estradas, além do principal porto do país. Instalações do governo e da missão da ONU foram atingidas pelo sismo, e algumas das pessoas que melhor conheciam as necessidades do Haiti, mortas. Isso neutralizou quase toda a capacidade de reação das autoridades lotadas naquele país.
Nesse quadro de restrições múltiplas e severas, a organização da ajuda internacional é ainda mais decisiva. Conhecer as necessidades reais do Haiti é critério fundamental para filtrar a oferta de remédios e comida, pois a capacidade de transporte e estocagem é bastante limitada. Após o tsunami no oceano Índico do final de 2004, que matou 230 mil pessoas, estima-se que 60% do material médico enviado do exterior não tinha utilidade naquele contexto.
Esse e outros erros cometidos pela comunidade internacional na catástrofe do Índico levaram a uma reformulação no mecanismo da ONU de resposta rápida a cataclismos. Um novo braço foi criado com o encargo de coordenar as ações entre os diversos setores das Nações Unidas -existem pelo menos 12 em ação no Haiti- e as ONGs que se apresentam nesses momentos -foram mais de 300 após o tsunami de cinco anos atrás.
Evitar a cacofonia das boas intenções também será crucial no capítulo das doações em dinheiro, cujas cifras milionárias, a maioria ainda no campo das promessas, passam a frequentar o noticiário. A proposta do economista norte-americano Jeffrey Sachs, de criar um fundo único com essas doações -fiscalizado por um comitê de doadores- a fim de financiar a dispendiosa e longa reconstrução do Haiti, foi a melhor que surgiu até agora.


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