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Organização urgente
Prover comida e ordem e evitar cacofonia de boas intenções são desafios da comunidade mundial após catástrofe no Haiti
A CARÊNCIA de água, comida e abrigo, que atinge milhões de haitianos, tornou-se a principal fonte dos surtos de violência no país arrasado pelo terremoto. Acabou na prática -embora infelizmente não no debate
diplomático- a distinção entre a
tarefa de restabelecer a ordem e
a de levar ajuda humanitária.
Sem o aumento rápido do contingente de policiais e militares
estrangeiros no país, de um lado,
e a estruturação de uma logística
eficiente de distribuição de alimentos, do outro, os saques, os
assassinatos e a selvageria na disputa por comida não vão cessar.
As forças de segurança precisam
escoltar equipes humanitárias e
organizar a oferta de ajuda, a fim
de que ela chegue depressa aos
necessitados -e que não sirva de
estopim para mais violência.
Agiu bem, portanto, o Conselho de Segurança da ONU ao autorizar, ontem, o reforço emergencial de tropas estrangeiras
sob sua responsabilidade no Haiti. A chegada de 2.000 soldados e
1.500 policiais elevará, para
9.000 militares e 3.500 agentes
de polícia, o contingente da força
internacional. Como a efetivação
dessa medida levará algum tempo, tem sido crucial o imediato
aporte de tropas americanas, que
hoje deverão superar 13.000,
embora mais da metade mantenha-se embarcada em navios.
O terremoto de 12 de janeiro
derrubou a torre de controle do
aeroporto de Porto Príncipe,
comprometeu a maior parte das
estradas, além do principal porto
do país. Instalações do governo e
da missão da ONU foram atingidas pelo sismo, e algumas das
pessoas que melhor conheciam
as necessidades do Haiti, mortas.
Isso neutralizou quase toda a capacidade de reação das autoridades lotadas naquele país.
Nesse quadro de restrições
múltiplas e severas, a organização da ajuda internacional é ainda mais decisiva. Conhecer as
necessidades reais do Haiti é critério fundamental para filtrar a
oferta de remédios e comida,
pois a capacidade de transporte e
estocagem é bastante limitada.
Após o tsunami no oceano Índico do final de 2004, que matou
230 mil pessoas, estima-se que
60% do material médico enviado
do exterior não tinha utilidade
naquele contexto.
Esse e outros erros cometidos
pela comunidade internacional
na catástrofe do Índico levaram a
uma reformulação no mecanismo da ONU de resposta rápida a
cataclismos. Um novo braço foi
criado com o encargo de coordenar as ações entre os diversos setores das Nações Unidas -existem pelo menos 12 em ação no
Haiti- e as ONGs que se apresentam nesses momentos -foram mais de 300 após o tsunami
de cinco anos atrás.
Evitar a cacofonia das boas intenções também será crucial no
capítulo das doações em dinheiro, cujas cifras milionárias, a
maioria ainda no campo das promessas, passam a frequentar o
noticiário. A proposta do economista norte-americano Jeffrey
Sachs, de criar um fundo único
com essas doações -fiscalizado
por um comitê de doadores- a
fim de financiar a dispendiosa e
longa reconstrução do Haiti, foi a
melhor que surgiu até agora.
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