São Paulo, sexta-feira, 20 de fevereiro de 2004

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MARCELO BERABA

O operador

RIO DE JANEIRO - Waldomiro Diniz, o ex-assessor do Gabinete Civil do governo do PT flagrado quando extorquia Carlinhos Cachoeira, era um operador. É assim que os políticos chamam os que operam nas sombras. Podem ter cargo público ou não, mas falam e agem em nome de um político. PC Farias era um operador.
Uma vez, conversando com um governador que jurava lisura e transparência, perguntei porque mantinha determinada figura se contra ela pesavam fortes suspeitas de irregularidades. A resposta foi simples: "Ele é o meu melhor operador".
O caso de Waldomiro é interessante porque, nos quase dois anos em que esteve no Rio, ele serviu a três senhores da política local: ao PT, ao grupo do então governador Garotinho e ao PL da Igreja Universal.
Quadro técnico do PT na década de 90, ele foi nomeado em 99 representante do governo fluminense em Brasília por Garotinho na cota petista. Seu entrosamento com o grupo foi rápido, a ponto de permanecer na representação mesmo depois do rompimento da aliança PT-PDT. Em 2001, ele foi trazido para o Rio para presidir a Loterj. Nesse período, foi assinado o contrato com a Combralog, de Carlinhos Cachoeira, para a exploração do jogo on-line. São desse período ainda várias denúncias de irregularidades ligadas ao bingo e ao desvio de verbas de publicidade da Loterj.
Na divisão de feudos do governo Garotinho, a Loterj coube à Universal. Embora não pertencesse à igreja, Diniz conhecia bem o Bispo Rodrigues, ontem destituído preventiva e exemplarmente de todas as suas funções religiosas e políticas.
Quando assumiu o governo, em 2002, no lugar de Garotinho, Benedita da Silva manteve Diniz na Loterj. É nesse período que acontece o episódio da extorsão gravado em vídeo.
Waldomiro serviu, portanto, ao PT (do Rio e de Brasília), ao grupo de Garotinho, agora no PMDB, e ao PL. Isso significa o domínio da Assembléia Legislativa e a provável repetição da CPI do Propinoduto: as investigações se limitarão aos operadores.


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