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RUY CASTRO
Patrimônio da cultura
RIO DE JANEIRO - "Mudando de
conversa/ Onde foi que ficou/
Aquela velha amizade/ Aquele papo
furado/ Todo fim de noite/ Num
bar do Leblon/ Meu Deus do céu,
que tempo bom!", cantou Doris
Monteiro na noite de Quarta-Feira
de Cinzas, na calçada da Toca do Vinicius, em Ipanema, depois de ter
suas mãos gravadas em cimento para a Calçada da Fama.
Em seguida foi a vez do saxofonista Aurino Ferreira, veterano do
Beco das Garrafas, do sexteto Bossa
Rio de Sergio Mendes e músico de
Wilson Simonal no apogeu do cantor, também imprimir as mãos. Aos
84 anos, firme como uma rocha e
com fôlego de mergulhador, ele encarou com seu sax-barítono a juventude do quarteto No Olho da
Rua, que o acompanhou em clássicos como "Insensatez", "Meditação" e "Batida Diferente".
A plateia, quase 1.000 pessoas na
calçada e na rua, era composta de
moradores de Ipanema -para
quem os eventos da Toca só exigem
trazer de casa uma cadeira de praia
e sentar- e turistas de toda parte,
fãs de bossa nova. A emoção provocada por Doris e a vibração gerada
por Aurino não perderam em nada
para o espírito do Carnaval que ainda ecoava.
Doris vem de um tempo, anos 50,
em que os cantores tinham contratos fixos com boates, gravadoras,
rádios e televisões e trabalhavam
365 dias por ano. Aurino faz parte
da geração de músicos cariocas que,
em 1959, 60, lançou as sementes do
samba-jazz: possantes formações
instrumentais, tocando sambas e
bossas novas com liberdade jazzística e pesado sotaque de gafieira.
Uma noite como a da Toca não
deveria ser vista como "nostalgia",
nem dirigida apenas aos que "viveram aquele tempo". A música de
Doris, de Aurino e de seus pares é
um patrimônio da cultura brasileira e como tal deveria ser estudada.
De preferência, ministrada por eles
próprios.
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