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CLÓVIS ROSSI
De risco e de dor
SÃO PAULO - Peter Shaw, analista
da agência de classificação de risco
Fitch, admite agora que os "eventos
recentes" não estavam nas considerações de sua empresa "há seis ou
nove meses".
"Eventos recentes" é a baita turbulência financeira global. Ora, para que diabos serve uma agência de
avaliação de risco incapaz de pôr no
seu radar, seis ou nove meses antes,
tamanho iceberg?
Shaw aproveitou para dizer que
ficou "mais difícil" o Brasil obter o
"investment grade", uma espécie de
Santo Graal do mundo financeiro.
Ótimo: depois que firmas que tinham tal "grade" foram para o vinagre ou tiveram colossais prejuízos,
desconfio que podemos abandonar
o complexo de colônia e parar de salivar na expectativa de um reconhecimento e de um afago de quem não
vê o risco onde ele existe.
Seria bom pôr na agenda o que
uma socióloga argentina cujo nome
me escapa chamou, faz anos, de
"dor país", como contraponto ao tal
"risco país".
O governo Lula reduziu a dor
país? Sem a menor dúvida. Basta?
Nem de longe. É só usar o metro do
próprio Lula, quando candidato,
para um item vital na "dor país",
qual seja, o emprego. Lula dizia que
seria preciso criar dez milhões de
empregos em quatro anos, ou 2,5
milhões por ano. Em nenhum dos
seus cinco anos de gestão chegou-se
a esse número. Nem neste ano, de
economia bombando. O governo
prevê criar 1,8 milhão, 28% abaixo
do necessário pelas contas de Lula,
não da oposição.
Nem preciso entrar em outras
"dores" (educação, saúde, baixos
salários, pobreza imensa, desigualdade obscena, guerras urbanas, saneamento básico etc.).
Menos mal que o próprio Lula,
quando se distrai de sua megalomania, admite uma "dor", como o fez
anteontem, ao dizer que "só vamos
ter um país socialmente justo quando o crescimento for distribuído de
forma equânime".
crossi@uol.com.br
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