São Paulo, Sábado, 20 de Março de 1999
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DÓLARES DO CURTO PRAZO

Informações preliminares indicam, nos últimos dias, um aumento de reservas internacionais no Banco Central que, como informou o jornalista Celso Pinto, em sua coluna de ontem nesta Folha, pode ter sido expressivo, em face das compras de dólares supostamente feitas pelo Banco do Brasil em nome do próprio BC.
É um bom sinal, que aliás confirma as críticas a idéias como a de dolarização ou de criação de um "currency board" no Brasil, nos moldes do que foi feito na Argentina, por exemplo.
Confirmado um cenário de recuperação de reservas, o BC poderá dar continuidade a sua estratégia de promover uma descompressão gradual no mercado de câmbio. É bom que a queda do dólar seja promovida de modo gradual: desse modo os exportadores e os investidores são estimulados a trazer o quanto antes seus recursos para o país, já que esperar pode significar fazer a troca dos seus dólares, depois, por menos reais.
Ao mesmo tempo, é preciso ter claro os limites desse oportuno retorno de dólares ao país, acompanhado também por informações sobre a disposição de bancos estrangeiros de manter de linhas de crédito.
Há dois fatores básicos de atração: juros excepcionalmente elevados e ampla flexibilização das regras de entrada de dólares, o que inclui uma redução nos impostos sobre a repatriação de investimentos.
Quanto aos fundamentos da economia, ajuste fiscal e saldos no comércio exterior, o ajuste, lamentavelmente, mal começou e nada indica que será fácil ou rápido.
O risco, portanto, é conhecido. Como aliás registrou o ex-presidente do BC, Francisco Lopes, pouco antes de deixar o cargo, o governo errou no passado ao apoiar a política econômica no estímulo à entrada de recursos de curto prazo, voláteis. Quando a credibilidade do país se esvaiu, esvaiu-se, também, o que parecia uma confiável montanha de reservas.
"Operar" com juros e impostos para atrair capitais não é novidade. É oportuno que a tática funcione nessa transição, mas de pouco adiantará se, mais uma vez, ajustes fundamentais não passarem de promessas, aos credores e ao FMI.


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