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DOIS PESOS, DUAS MEDIDAS
Quatro dissidentes cubanos foram
condenados à prisão nesta semana,
em razão de um documento divulgado em 1997, no qual criticavam o regime comunista e pediam reformas
democráticas. A condenação, criticável sob qualquer ponto de vista, serviu de pretexto para que os EUA justificassem a intransigência quanto ao
embargo comercial em vigor desde o
início dos anos 60, que mantém a população cubana, em verdade a maior
vítima da ditadura de Fidel, atrás de
um espesso cordão de isolamento.
Quase ao mesmo tempo, o primeiro-ministro chinês anunciava esperar que as divergências sobre direitos
humanos não prejudiquem o caráter
amistoso da viagem que fará a Washington, no mês que vem.
Além da repressão a dissidentes, há
uma vasta agenda de conflitos que o
governo norte-americano procura
minimizar. O principal deles tem como pivô a descoberta do furto por espiões chineses, numa base militar
norte-americana, de projetos que
permitiram, nos anos 80, a fabricação de pequenas ogivas nucleares.
E ainda: a Justiça de Nova York investiga uma rede clandestina que estaria fornecendo a bancos de transplantes norte-americanos, segundo a
agência "Reuters", órgãos extraídos
de chineses condenados à morte. Foram 1.876 execuções em 1997, segundo a Anistia Internacional.
Por muito menos, Washington e
Pequim trocariam insultos nos tempos da Guerra Fria. Agora, prevalece
a troca de gentilezas, que contrasta
com a má vontade que os Estados
Unidos manifestam em relação aos
cubanos -aliás, também empenhados, como os chineses, ainda que de
forma incipiente, em reformas que
minimizem a extensão da propriedade estatal e introduzam componentes de economia de mercado.
Nessa política de dois pesos e duas
medidas, há a óbvia importância da
economia chinesa, e o potencial que
ela oferece aos investidores norte-americanos. É em nome dela que a administração Bill Clinton se prepara
para ciceronear o ingresso da China
na Organização Mundial do Comércio. O que faz lembrar um belo conto
de fadas cujo pano de fundo são os
cemitérios de dissidentes.
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