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O governo deve reduzir a tributação sobre capital externo de curto prazo?
SIM
Dinheiro bom e dinheiro ruim
NATHAN BLANCHE
A crise de confiança vivida pela economia brasileira nas últimas semanas
foi gerada tanto pela mudança do regime cambial quanto pela ausência de
uma nova âncora nominal. Como consequência, o mercado cambial manteve-se pressionado, com a desvalorização atingindo níveis de até 84% e perdas de reservas de até US$ 5 bilhões.
Diante desse quadro, o governo trocou o comando do Banco Central e
anunciou a orientação para as políticas
fiscal, monetária e cambial. A equipe
liderada por Armínio Fraga elevou os
juros, anunciou um regime cambial de
flutuação suja e divulgou as metas fiscais acordadas com o FMI. Não fosse
esse posicionamento, a desconfiança se
generalizaria para os pequenos investidores, promovendo uma perigosa corrida em direção a ativos reais.
Superada a fase inicial do choque, começou um processo de recuperação da
confiança de curto prazo. A médio prazo, contudo, ainda restam dúvidas em
relação ao grande desafio da economia
brasileira: a mudança do regime fiscal.
A reconquista da credibilidade depende da melhoria dos fundamentos econômicos e da nova agenda de reformas
estruturais. Sem isso, a estratégia de
curto prazo não se sustenta.
O fluxo cambial reflete essas incertezas. Os prêmios sobre os papéis brasileiros permanecem elevados, mantendo-se em cerca de 11 pontos percentuais acima da remuneração oferecida
pelos títulos públicos nos Estados Unidos. As renovações de papéis privados
estão praticamente suspensas, e as linhas de comércio resistem em voltar à
normalidade. Sob o regime cambial
atual, essas incertezas implicam pressões sobre a taxa de câmbio, influenciando de maneira direta as expectativas em relação ao país.
Estimular o ingresso de capitais de
curto prazo é, portanto, inevitável. Seriam os primeiros recursos privados a
voltar para o país, abrindo espaço para
o retorno dos capitais de prazos mais
longos. Os capitais de curto prazo têm
como virtude reduzir a pressão cambial
no mercado à vista, ao mesmo tempo
em que demandam proteção nos mercados futuros.
Com isso, o comportamento esperado para a taxa de câmbio em períodos
de normalidade é restabelecido: cotações mais baixas no curto prazo e taxas
mais elevadas para prazos mais longos,
refletindo o nível de incertezas econômicas. Seria indício de uma melhoria
na confiança, estimulando a volta dos
capitais menos voláteis.
A condução da política econômica
deve priorizar a busca pela calma nos
mercados, elevando juros e aumentando a oferta de divisas no mercado cambial. Melhorar o fluxo cambial é essencial para dar confiança aos investidores
e, a partir daí, alongar prazos e diminuir prêmios. E, dado o nível de risco
atual, nem seria razoável imaginar que
esses capitais pudessem ser mais longos e menos voláteis. Não há, portanto,
dinheiro bom nem ruim.
Nathan Blanche, 60, economista, é sócio da Tendências
Consultoria Integrada.
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