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Padrão inaceitável
Omissão do governo Lula encoraja corporações a fazer chantagem; falta regulamentar o direito de greve no setor público
O DNA SINDICAL do governo Luiz Inácio Lula da
Silva está custando caro ao país. Na sua tendência inata para negociar até o
que deveria ser inegociável, presidente e ministros incentivam a
generalização da chantagem
com a tranqüilidade pública como instrumento de pressão por
categorias cuja função de Estado
é, por ironia, zelar por ela.
Encorajada pela impunidade
com que controladores de vôo
impuseram o caos nos aeroportos do país, a Polícia Federal (PF)
seguiu o exemplo. Uma operação-padrão de agentes lotados na
conferência de passaportes ocasionou filas de passageiros medidas em horas e quilômetros.
A mobilização corporativista,
além de revolta, plantou também
a dúvida na alma de todos: qual
seria a confiabilidade desse serviço de segurança quando policiais não seguem o que eles próprios chamam de padrão? Parece
óbvio que em uma das duas situações acabem por não cumprir
integralmente sua obrigação.
A liderança paredista deve um
esclarecimento ao público. Fica
dispensada, porém, da franqueza
acintosa com que o presidente
do sindicato da PF em São Paulo
admitiu que as filas servem para
"chamar a atenção do governo".
Mais uma vez, a chantagem surtiu efeito: uma reunião com sindicalistas foi programada pelo
Ministério do Planejamento.
Essa é a pasta, de resto, que é
acusada pelos servidores da PF
de descumprir um pacto firmado
no início de 2006 com Márcio
Thomaz Bastos, então ministro
da Justiça. Pelo acordo, um reajuste salarial de 60% seria dividido em duas parcelas, mas a segunda -prevista para dezembro- nunca se efetivou, reclamam os sindicatos. Como já surgiu no caso dos controladores de
vôo, a acusação de fazer tratos e
desrespeitá-los, ao que parece,
também tende a generalizar-se.
Sem entrar no mérito de tal
reajuste, cabe registrar que a PF
representa hoje a elite policial do
país. De 9.276 servidores (7.402
policiais e 1.874 na área administrativa), em 2004, seu efetivo
conta hoje com 12.989 (9.689 e
3.300, respectivamente). O salário pago à corporação varia entre
R$ 4.000 e R$ 15 mil.
Em comparação, um policial
civil no Distrito Federal recebe o
máximo de R$ 6.000. Um policial militar ganha R$ 2.900 de salário inicial na mesma unidade
da Federação, a melhor remuneração de um PM novato no país.
Há Estados, como Alagoas e Rio
de Janeiro, em que responsáveis
pelo policiamento ostensivo arriscam a vida por menos de R$
900 mensais, no início da carreira. A PF, portanto, está longe de
ser mal remunerada.
O governo federal se torna
cúmplice do absurdo não só por
sua leniência no trato com a categoria mas também -ao lado do
Congresso- ao procrastinar a
regulamentação do direito de
greve no setor público, a exemplo da que existe no privado.
Com regras claras sobre áreas
essenciais, nas quais grevistas ficariam obrigados a manter o serviço, ações destemperadas como
as da Polícia Federal e as recorrentes paralisações do INSS teriam conseqüências mais graves
para as categorias.
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