São Paulo, sábado, 20 de maio de 2006

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PALANQUES DE SANGUE

O tema da segurança pública constaria necessariamente da lista de principais discussões nas campanhas eleitorais neste ano, seja para o Planalto, seja para governos estaduais. Os acontecimentos do fim de semana passado em São Paulo agregarão dramaticidade ao debate. É bom que seja assim. É do interesse público que a democracia possa encaminhar uma solução para a contenção da barbárie que o crime vem promovendo nas grandes cidades.
Nada justifica, porém, a partidarização irresponsável da selvageria promovida pelo PCC, desrespeitando o luto de familiares dos agentes da lei covardemente assassinados, perdendo de vista que o crime organizado é inimigo comum de todos os políticos comprometidos com o Estado de Direito e contribuindo para dividir e enfraquecer as forças da ordem no momento em que elas mais precisariam de coesão e força.
Das mais lamentáveis exibições de oportunismo eleitoral sobre o sofrimento e o sangue alheios foram algumas frases do ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro. Na quarta, o petista atacou o governo paulista, dizendo que preferiu "negociar com criminosos" a aceitar ajuda federal para debelar a crise.
Nem se mencione o fato de Genro esconjurar "negociações com criminosos" pouco depois de 11 petistas ou ex-petistas terem sido denunciados criminalmente pelo mensalão. Frise-se que o ministro apenas revelou sua indignação num momento preciso: após o Datafolha ter mostrado que a maioria dos paulistanos gostaria do apoio de tropas federais.
Quando Genro falou, o pior da crise já passara. Seis mil homens do Exército sem nenhuma experiência no combate ao crime organizado em São Paulo não teriam feito a menor diferença, diante de quase 100 mil policiais paulistas que lidam diariamente com o problema. Negociação com o PCC, naquele contexto explosivo, terá sido escandalosa se o poder público ofereceu vantagens fora da lei aos líderes dos motins. Do contrário, tratou-se de atitude de bom senso para poupar vidas, à qual acorreria qualquer governante responsável.
Essa dúvida -entre uma negociação ilegal e uma ação legítima, dado o contexto- somente o Ministério Público e a Justiça podem tirar, após exame cuidadoso dos fatos. Não caberia a Genro prejulgar, quanto mais quando era o momento de demonstrar união. Mas o autor da tese oca da "refundação do PT" preferiu perfilar-se no time dos muitos políticos que não souberam ler a crise paulista.


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