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PALANQUES DE SANGUE
O tema da segurança pública
constaria necessariamente da
lista de principais discussões nas
campanhas eleitorais neste ano, seja
para o Planalto, seja para governos
estaduais. Os acontecimentos do fim
de semana passado em São Paulo
agregarão dramaticidade ao debate.
É bom que seja assim. É do interesse
público que a democracia possa encaminhar uma solução para a contenção da barbárie que o crime vem
promovendo nas grandes cidades.
Nada justifica, porém, a partidarização irresponsável da selvageria
promovida pelo PCC, desrespeitando o luto de familiares dos agentes
da lei covardemente assassinados,
perdendo de vista que o crime organizado é inimigo comum de todos os
políticos comprometidos com o Estado de Direito e contribuindo para
dividir e enfraquecer as forças da ordem no momento em que elas mais
precisariam de coesão e força.
Das mais lamentáveis exibições de
oportunismo eleitoral sobre o sofrimento e o sangue alheios foram algumas frases do ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro. Na
quarta, o petista atacou o governo
paulista, dizendo que preferiu "negociar com criminosos" a aceitar
ajuda federal para debelar a crise.
Nem se mencione o fato de Genro
esconjurar "negociações com criminosos" pouco depois de 11 petistas
ou ex-petistas terem sido denunciados criminalmente pelo mensalão.
Frise-se que o ministro apenas revelou sua indignação num momento
preciso: após o Datafolha ter mostrado que a maioria dos paulistanos
gostaria do apoio de tropas federais.
Quando Genro falou, o pior da crise já passara. Seis mil homens do
Exército sem nenhuma experiência
no combate ao crime organizado em
São Paulo não teriam feito a menor
diferença, diante de quase 100 mil
policiais paulistas que lidam diariamente com o problema. Negociação
com o PCC, naquele contexto explosivo, terá sido escandalosa se o poder
público ofereceu vantagens fora da
lei aos líderes dos motins. Do contrário, tratou-se de atitude de bom senso para poupar vidas, à qual acorreria
qualquer governante responsável.
Essa dúvida -entre uma negociação ilegal e uma ação legítima, dado
o contexto- somente o Ministério
Público e a Justiça podem tirar, após
exame cuidadoso dos fatos. Não caberia a Genro prejulgar, quanto mais
quando era o momento de demonstrar união. Mas o autor da tese oca da
"refundação do PT" preferiu perfilar-se no time dos muitos políticos que
não souberam ler a crise paulista.
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