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CLÓVIS ROSSI
O pôquer e a cegueira
PARIS - Gillian Tett, a editora de
mercado de capitais do jornal global "Financial Times", conta em sua
coluna de ontem a conversa que teve com um experiente banqueiro,
para o qual nunca houve nos mercados financeiros condições do tipo
"bolha" como as atuais.
"Bolhas" explodem, cedo ou tarde, como todo mundo sabe. Note o
leitor que estamos falando de um
jornal que não tem nem nunca teve
resistências aos mercados.
Passemos agora a outra publicação igualmente pró-mercados em
geral, a revista "The Economist".
Também trata do jogo financeiro,
aliás, exatamente como jogo, ao dizer que empréstimos, agora, são
"embaralhados em torno do sistema financeiro tal como muitas cartas no jogo de pôquer".
Completa lembrando que, nesse
"embaralhamento", o risco de empréstimos infelizes está mais bem
distribuído, o que "não significa necessariamente que o sistema como
um todo é seguro". Choques podem
ser menos freqüentes, mas mais
violentos, imagina.
Voltemos ao "Financial Times",
cuja capa de ontem anuncia que a
China comunista vai entrar no cassino, colocando US$ 3 bilhões de
suas portentosas reservas (US$ 1,2
trilhão) em uma firma financeira
norte-americana, para investimentos de risco (o tal "pôquer"). O usual
é que reservas sejam preservadas
em investimentos seguros, embora
de menor retorno (como o faz o
Brasil com suas reservas, comparativamente uma mixaria).
Também ao contrário do que
ocorre no Brasil, onde as autoridades sentem-se impotentes/inapetentes/incompetentes para ao menos tentar pôr certa ordem no pôquer, o Banco Central Europeu está
lutando penosamente para colocar
controles sobre os tais "hedge
funds", os que apostam em tudo.
Tampouco o BCE é um feudo de jurássicos anticapitalistas.
É gente igualmente pró-mercado. Mas não é cega.
crossi@uol.com.br
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