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CLÓVIS ROSSI
O silêncio dos nada inocentes
SÃO PAULO - Michael Martin, o
"speaker" (presidente) da Câmara
dos Comuns britânica, anunciou
ontem que entrega o cargo na quinta-feira, a primeira renúncia de um
"speaker" desde 1695.
Martin não resistiu à pressão da
opinião pública, indignada com um
escândalo de gastos dos honoráveis
MPs (Membros do Parlamento)
que é bastante semelhante ao escândalo do momento nestes tristes
trópicos: suas excelências usam dinheiro público para, por exemplo,
reformar piscinas ou quadras de tênis em suas segundas casas (a primeira, logicamente, é a de Londres,
sede do Parlamento).
Enfim, trambicagens iguais às
nossas -e legais, embora indecentes, como as nossas.
O que muda é a consequência. Alguém aí ouviu Michel Temer ou José Sarney falarem em renúncia ante
a catarata de escândalos que afeta
ambas as Casas do Congresso? Ou,
ao contrário, ficam ambos quietinhos, na moita, esperando a onda
passar, na certeza de que a tal de
opinião pública esquece logo ou está (sempre foi) acomodada demais?
Já os ingleses reagiram de diferentes maneiras. Houve quem atirasse um tijolo nas vidraças do escritório de um MP. Não recomendo, não só porque sou pacifista como porque, aqui, o congressista cobraria do Tesouro o conserto.
Outro eleitor mandou flores em
formato de libra esterlina para o representante eleito por seu distrito.
Enfim, o público tira o bumbum
da cadeira e vai à luta. O Parlamentar não consegue se lixar para a opinião pública, porque ela não é apenas virtual, como no Brasil.
Tanto não consegue que o primeiro-ministro, Gordon Brown, já
está anunciando mudanças nas regras do jogo, com a criação de um
organismo regulador independente
para vigiar os gastos. E vocês, queridos Temer e Sarney, vão continuar
se escondendo?
crossi@uol.com.br
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