São Paulo, domingo, 20 de julho de 2008

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VINICIUS MOTA

Dinheiro das profundezas

SÃO PAULO - Diga-se tudo dos congressistas, menos que não sabem farejar bufunfa a distância. Mais penetrantes que as sondas da Petrobras, políticos já vislumbram um país inundado pelo combustível que fluirá desse éden submarino chamado pré-sal.
Germina uma batalha legislativa pela redistribuição preventiva da grana que, a título de royalties e participações especiais, sai do caixa das petroleiras e abastece o cofre de municípios, Estados e União. Foram R$ 15 bilhões no ano passado, cifra que só vai aumentar, para não dizer disparar, nos próximos anos.
Senadores e deputados debruçam-se sobre a polêmica do côncavo e o convexo. Estados como o Rio, de fronteiras côncavas qual os braços do Cristo Redentor, reclamam os paulistas convexos, concentram demais, e injustamente, o dinheiro das profundezas. O governo federal acha que os 40% que hoje abocanha é uma fatia muito modesta do bolo.
A Marinha quer a liberação da verba dos royalties que no papel é sua para defender melhor os novos mananciais de petróleo. O ministro Mantega pleiteia uns caraminguás para o seu fundo soberano, que por ora não é fundo nem soberano.
Os mais espertos, claro, começam pelo começo: como vai ser o modelo de exploração das jazidas gigantes do pré-sal? A Petrobras, que no início ensaiou uma cartada ousada -recuperar na base do tapetão o monopólio perdido na abertura de FHC-, parece que recuou.
O foco da controvérsia é saber se o governo terá controle sobre o volume de produção física dos novos campos, por meio de uma estatal nova, por exemplo, ou se essa será uma decisão empresarial do concessionário, como acontece hoje.
O mais importante, contudo, será discutir que proveito a sociedade fará da renda dos poços ultraprofundos. Poucas decisões nas últimas décadas terão sido tão fundamentais para o destino do país.

vinimota@folhasp.com.br


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