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LIBERAL NO LONGO PRAZO
As novas idéias do economista-chefe e vice-presidente do Banco Mundial, Joseph Stiglitz, provocaram reações que, no limite, podem dificultar
o seu entendimento.
Stiglitz afirma que o Consenso de
Washington, a cartilha liberal seguida pela maioria dos países latino-americanos nas décadas de 80 e 90, é
insuficiente e, em alguns pontos,
equivocada. Ele pede maior atenção
às possíveis virtudes da ação do Estado. Isso inclui limitações à liberdade
dos capitais e mais ênfase em metas
de desenvolvimento humano, muitas
vezes sacrificadas em nome da obsessão com o combate à inflação.
Essas teses levaram a dois tipos de
reação, cujo equívoco começa com a
distorção que as idéias de Stiglitz sofrem nas mãos de seus críticos.
O primeiro equívoco é dizer que Stiglitz e o consenso pós-liberal seriam
na prática uma volta ao populismo, à
idéia perniciosa de que "inflação é
bom" ou, no mínimo, de que "alguma inflação é bom". É um truque retórico. Incapazes de rever suas posições, os críticos projetam sobre o
próprio Stiglitz a autocrítica que não
querem fazer. Mas é razoável dizer
que a crítica à obsessão com a inflação, em nome de uma agenda mais
ampla, não equivale a negar a estabilidade e querer a volta ao passado.
O segundo equívoco é tomar o discurso de Stiglitz como uma afronta
ideológica. Nesse caso, o equívoco
está na transformação de um debate
político legítimo numa luta do bem
contra o mal. A dificuldade não é nova. No início do século, depois da crise de 29, ocorreu uma importante revisão das teorias econômicas liberais, também com incompreensões.
As grandes crises econômicas,
aliás, costumam estimular as lideranças responsáveis a buscar políticas ativas, construtivas, capazes de
reduzir os custos de um ajuste que
seria talvez insuportável se efetivado
apenas pelas forças de mercado.
Passada a crise, num movimento
em boa medida pendular, quando tudo volta a funcionar, o respeito ao
mercado também retoma vigor.
A oposição ao ultraliberalismo é legítima, a crítica ao mercado não é irracional. E, no longo prazo, é possível que todos sejam liberais.
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