|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
JOSÉ SARNEY
Brasil no Olimpo,
sem futebol
A bola da vez é a Olimpíada. Não
temos ganhado medalhas, mas
estamos felizes dentro das competições, e nossos locutores, de pulmão
cheio, proclamam: "O Brasil não é só o
país do futebol, mas de Olimpíada",
embora a nossa equipe campeã mundial tenha sido eliminada.
O que não está caindo bem é essa
exibição de choro dos atletas. O nosso
homem do judô, esporte que julgamos duro e rude, coisa para feras, chorava mais que Ronaldinho quando
perdemos a Copa de 98.
A Olimpíada tem a tradição de mais
de dois mil anos, símbolo generoso do
espírito de confraternização pelo esporte, realizada em Olímpia, na Grécia, que não era nem uma cidade, mas
um recinto sagrado, com edifícios,
monumentos e templos, cuja importância eram os jogos. O clima das
competições era tão forte que, durante
sua realização, todas as guerras eram
suspensas para ser somente um tempo de jogos, competição e paz. Os
exércitos, se tinham de passar por
Olímpia, deixavam as armas e caíam
na confraternização geral.
Algumas regras eram impostas,
mais duras do que hoje. As mulheres
casadas não podiam assistir aos jogos
sob pena de serem condenadas à morte. Naturalmente, pelo ciúme dos gregos, para elas não serem seduzidas pelos bonitões atletas, estes mesmos que
serviram de modelo para as belas esculturas gregas que nos chegaram até
hoje, com figuras apolíneas. Outra regra bem mais justa era a adotada nas
corridas dos carros puxados por cavalos. O ganhador não era o condutor,
mas os cavalos. Afinal eram eles que
faziam força. Hoje, esses cavaleiros
que pulam obstáculos montados nos
animais são os ganhadores.
Olimpíada já foi calendário: quatro
anos, uma Olimpíada. Hoje, uma
Olimpíada a cada quatro anos.
O inusitado está por conta das zebras: o desempenho da China e a derrota dos Estados Unidos no basquete
para Porto Rico, com uma vibração
enorme de todas as torcidas, naturalmente porque não suspenderam a
Guerra do Iraque, que continua na cabeça das pessoas.
No colégio Cisne, no Maranhão, o
professor Arimatéa não fazia olimpíada, mas maratonas, irmãs daquela:
maratona de história, de latim, de português e outras mais. Uma vez, o senado do colégio -e tínhamos senado
representando as turmas- foi reclamar de sua cunhada, dona Roseira,
que estava tratando mal os alunos.
Quando a comissão chegou e disse-lhe da reivindicação, o professor Arimatéa respondeu: "Quer dizer que eu
não posso ter minha cunhada como
empregada do colégio? É isso que decidiu o senado?". Virou-se para o grupo e disse: "Vocês que tomaram parte
da maratona de história estão lembrados do que foi o 18 Brumário, quando
Napoleão fechou a Assembléia dos
Quinhentos? Pois é isso. Está dissolvido o Senado".
As olimpíadas do colégio eram como aquelas da Antiguidade, encerradas por cantos, poesia, música e bailados.
Agora é esperar que a nossa Daiane
faça aqueles saltos incríveis da ginástica de solo, dance o "Brasileirinho" e
caia com os pés firmes, sem erro.
Mas a sensação da semana foi a partida de futebol no Haiti. O povo gritando por Ronaldinho, e Lula, na platéia, marcando gol de placa.
No mais, Chávez saiu da maratona
do plebiscito e já quer mais outros sete
anos.
José Sarney escreve às sextas-feiras nesta coluna.
Texto Anterior: Rio de Janeiro - Claudia Antunes: Razões do preconceito Próximo Texto: Frases
Índice
|