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A confissão do predador
OTAVIO FRIAS FILHO
Não há muito o que concluir de tudo
o que foi publicado sobre o criminoso
que a imprensa batizou de "maníaco
do parque". A psiquiatria é um ramo
incrivelmente atrasado; os pareceres
técnicos ora repetem banalidades, ora
são contraditórios, ora ventilam hipóteses promissoras, mas impossíveis de
provar. Ninguém sabe.
Ouvir o que diz o próprio assassino
não esclarece nada, mas dá os contornos do enigma. O que pode levar alguém a fazer aquilo? Na sua edição do
dia 13, a "Folha da Tarde" publicou a
íntegra da confissão feita cinco dias
antes. Não poderia ser diferente, é um
relato sinistro, terrível, que muitas
pessoas prefeririam não ler.
O tom parece sair das páginas mais
sombrias de Dostoiévski, mas acrescido do amontoado de orações coordenadas, ligadas pelo "e", que é próprio do estilo policial e lhe confere às
vezes um ritmo estranhamente bíblico. Menos absurda do que parece, a
associação lembra os crimes hediondos que pululam no Velho Testamento.
O assassino dá a receita da tão propalada facilidade com que ludibriava
mulheres. Por meio de "conversas
humildes e sinceras", ele se dispunha
a escutar o que a desconhecida tinha a
dizer. De acordo com seu próprio testemunho, essa era a chave da sedução
quase hipnótica que ele exerceu sobre
a maioria das vítimas.
Como parece ser comum nesses casos, também ele menciona a coexistência de um lado "bom" e outro
"ruim" na sua personalidade, e descreve longamente o conflito entre ambos, em que ora predomina um, ora o
outro. Essas oscilações o levavam a
tergiversar durante suas capturas,
quando vagava pelo metrô "como
um predador".
As hesitações de sua parte parecem
ter reforçado a confiança das garotas
abordadas, ele não dava mostras de
pretender arrastá-las de qualquer modo. A crer em sua versão, algumas das
vítimas estavam cientes de que se dirigiam ao parque para "namorar" com
ele. A disponibilidade emocional dessas garotas é outro enigma.
Ele é louco? Como pode não ser louco quem fez o que ele fez? É correto
que os loucos não sejam, ao menos
teoricamente, punidos? No depoimento, ele deseja "consignar que
acha importantíssima a manutenção
de sua custódia", pois está seguro de
que, caso contrário, voltará a matar,
tão logo o lado "mau" reassuma.
Na disputa por sua defesa, diz que
escolheu o time liderado por uma advogada, "pois achou importante que,
depois de ter matado todas aquelas
mulheres, uma mulher se dispunha a
defendê-lo", advogada a quem pediu
desculpas extensivas ao gênero feminino. E contou a famosa história da tia
que o teria molestado na infância.
Estamos acostumados a atribuir a
prática de crimes a fatores sociais.
Com a falência da sociologia, essa
concepção entrou em crise, e recrudescem as explicações de base genética ou bioquímica. Os culpados estão
voltando a ser culpados. Mas em casos
tão extremos como este não há ciência, nem moral, talvez nem religião.
Otavio Frias Filho escreve às quintas-feiras nesta coluna.
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