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Noite próspera
Deputados rejeitam instrumentos essenciais para controlar a máquina pública e as finanças das campanhas eleitorais
DO VAIVÉM entre a Câmara e o Senado, pouca coisa terminou mudando nas regras para
as eleições do próximo ano. Numa votação-relâmpago na noite
desta quarta, a maioria dos deputados tratou de eliminar as iniciativas mais elogiáveis -e também as mais desastrosas- que
estavam em pauta na chamada
"minirreforma eleitoral".
Preservou-se o que mais interessava ao conjunto dos atores
políticos. Na questão do financiamento das campanhas, o imperativo de um aperfeiçoamento
dos mecanismos em vigor sofreu
sua maior derrota.
Oficializou-se a prática das
doações ocultas nas campanhas
eleitorais. Empreiteiras, bancos
e grandes corporações poderão,
assim, continuar investindo altas somas nos candidatos de sua
preferência, sem que tal financiamento se torne oportunamente visível ao eleitor.
Mantém-se o expediente clássico: altas somas se canalizam
para o caixa do partido, que então as encaminha, em sigilo, ao
candidato. A legenda só abre
suas contas no ano seguinte ao
pleito, quando os fatos eleitorais
já estão consumados. Em consequência, o cidadão vota num político sem saber os interesses que
este irá representar.
Não foi essa a única afronta aos
princípios republicanos consagrada pelos deputados. No Senado, conseguira-se aprovar uma
série de emendas proibindo, por
exemplo, a ampliação dos benefícios sociais, a propaganda de
obras do governo nos quatro meses que antecedem o pleito e a
criação de novos programas de
assistência em ano eleitoral.
Nada disso sobreviveu na Câmara. Não que o projeto dos senadores merecesse integral
aprovação, muito ao contrário.
Determinações inviáveis, extravagantes e nocivas não faltavam
em sua redação. Na pressa para
salvar o básico, os deputados terminaram deixando-as de lado.
A obrigatoriedade de que os
institutos de pesquisa seguissem
os dados do IBGE foi abolida. Era
um grosseiro equívoco do ponto
de vista técnico, ademais de
constituir mais um sintoma do
permanente litígio entre a conveniência dos políticos e o direito da sociedade à informação.
Outro exemplo desse crônico
desentendimento foi, ao menos,
destituído de seus aspectos mais
absurdos na votação da Câmara.
Ante as tentativas de alguns senadores no sentido de restringir
a liberdade de expressão na internet, submetendo seu conteúdo às regras vigentes para o rádio
e a TV, a Câmara chegou a uma
solução de compromisso.
Ainda que não totalmente satisfatória -persistem restrições
a debates entre candidatos na internet, por exemplo-, a nova legislação evita o pior.
O que de mais importante a
Câmara evitou, todavia, foi a
criação de mecanismos de controle público do financiamento
das campanhas. Teve-se, sem
dúvida, "uma noite muito próspera para o Parlamento", como
declarou o presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP). E
deu-se por encerrada a sessão.
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