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CLÓVIS ROSSI
A lenda continua viva
SÃO PAULO - O IBGE insiste em
escamotear a realidade com os dados da Pnad (Pesquisa Nacional por
Amostragem de Domicílio). Pior: a
mídia compra acriticamente a lenda da queda da desigualdade, o que
é uma versão incompleta da realidade.
O tal índice de Gini, o que reflete
a desigualdade, "mede a diferença
entre as rendas que remuneram o
trabalho, portanto, não leva em
conta as rendas do capital: juros e
lucro", escreveu João Sicsú, que
vem a ser o principal economista do
Ipea (Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas, instituição do governo).
Passemos agora a palavra ao chefe de Sicsú, Marcio Pochmann, presidente do Ipea: "A parte da renda
do conjunto dos verdadeiramente
ricos afasta-se cada vez mais da
condição do trabalho, para aliar-se
a outras modalidades de renda, como aquelas provenientes da posse
da propriedade (terra, ações, títulos
financeiros, entre outras)".
Então fica combinado que caiu
apenas a desigualdade entre os assalariados, que, como explica Pochmann, nem é a mais importante, já
que os ricos veem sua renda "afastar-se cada vez mais da condição do
trabalho".
Desconheço números recentes
para medir a desigualdade não apenas entre salários mas no conjunto
das rendas. De todo modo, o já citado Pochmann escreve que "em
2005, a participação do rendimento
do trabalho na renda nacional foi de
39,1%, enquanto em 1980 era de
50%. Noutras palavras, a renda dos
proprietários (juros, lucros, aluguéis de imóveis) cresceu mais rapidamente que a variação da renda
nacional e, por consequência, do
próprio rendimento do trabalho".
Note, leitor, que o crescimento da
desigualdade de renda se deu pelo
menos até 2005, o que cobre sete
dos dez anos em que o IBGE diz que
diminuiu a desigualdade. Não mente, mas omite o relevante, o desnível capital/trabalho.
crossi@uol.com.br
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