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LUIZ FERNANDO VIANNA
Helicóptero cai, Martinho não sobe
RIO DE JANEIRO - Um helicóptero da polícia sobrevoa uma favela
do Rio, é atingido por tiros, pega fogo e cai com mortos. Isso aconteceu
em 16 de novembro de 1984, no
morro do Juramento, numa operação para prender José Carlos dos
Reis Encina, o Escadinha.
No mesmo ano, saiu o disco
"Martinho da Vila Isabel", um dos
melhores da carreira do sambista e
no qual ele aparece, na contracapa,
no alto do morro dos Macacos.
Os traficantes levaram 25 anos
para derrubar outra aeronave policial. Demoraram muito. Já tinham
mostrado afinidade com o meio de
transporte em 1986, quando içaram
Escadinha do presídio de Ilha
Grande numa fuga espetacular. De
lá para cá, têm reforçado o seu armamento e, apesar da alta rotatividade da mão de obra, a sua mira.
Martinho levou muito menos
tempo para se afastar das tendinhas
do morro que tanto frequentou e
cantou. Em 1992, ainda podia desejar em "Alô" morar "até mesmo
num barraco/ Naquele Macaco do
meu coração". No final da década
passada, já não circulava mais por
lá. E em 2005 reconheceu que só
"Quando Essa Onda Passar" ele poderia "pegar o Mané do Cavaco/ E
levar pra uma roda de samba/ No
meu morro dos Macacos".
Escadinha foi assassinado em
2004, quando saía do presídio para
trabalhar. Tinha 48 anos. Demorou
muito. Traficante coroa não é algo
que se encontre no Rio. Quem é um
pouco mais velho está, na melhor
das hipóteses, dando ordens de um
presídio de segurança máxima.
Martinho, 71, ganhou a disputa
de samba-enredo na Unidos de Vila
Isabel para o próximo Carnaval. A
letra homenageia Noel Rosa. O encontro simbólico entre os dois
maiores nomes do bairro foi visto
como sinal de novos tempos para o
Rio. O último sábado provou que
ainda falta muito para a cidade voltar a merecer Martinho e Noel.
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