|
Próximo Texto | Índice
JUROS E ESFORÇO FISCAL
Desde o início do atual governo, os responsáveis pela política econômica vêm enfatizando a necessidade de reduzir o peso da dívida
pública em relação ao PIB como condição para diminuir a taxa de juros
real e acelerar o crescimento da economia. Essa argumentação voltou à
cena com a proposição, pelos ministérios da Fazenda e do Planejamento,
de um ambicioso programa de ajuste
fiscal com horizonte de até dez anos.
O programa esboçado, que gerou
celeumas e serviu de pretexto para a
ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, atacar a política econômica,
centra-se na manutenção de elevados
superávits primários; na ampliação
da desvinculação de receitas, de modo a reduzir a destinação obrigatória
da arrecadação para determinadas
atividades, como educação e saúde; e
numa contração progressiva das
despesas correntes, como custeio,
Previdência e programas sociais.
As moedas de troca incluídas na
proposta seriam uma lenta redução
da alíquota da CPMF -apenas a partir de 2009 ou 2010- e a promessa de
aumentar expressivamente os investimentos públicos.
O plano, embora traga aspectos
duvidosos, faz sentido dentro das
opções da atual equipe econômica.
Mas é difícil que no atual quadro encontre espaço político para prosperar. Mas as dificuldades políticas que
o cercam não afastam de cena a discussão acerca da relação entre o desempenho fiscal e os juros à luz da
experiência recente.
A relação dívida pública/PIB situa-se hoje na faixa de 51% a 52%, bastante próxima dos níveis que o Ministério da Fazenda projetou em documento de abril de 2003 intitulado
"Política econômica e reformas estruturais". O importante a se observar é que essas projeções trabalhavam com um crescimento da economia entre 2003 e 2005 similar ao que
se está verificando (perto de 3% ao
ano, em média), mas a evolução efetiva dos demais fatores se mostrou
bastante diversa da estimada.
A suposição era que os superávits
primários anuais ficassem em 4,25%
do PIB, mas eles foram um pouco
maiores. Já a previsão de câmbio relativamente estável, numa faixa superior a R$ 3 por dólar, contrastou vivamente com a forte valorização do
real. Isso aconteceu, em parte, em razão de um "choque externo" favorável, ou seja, a alta das cotações internacionais de algumas commodities
exportadas pelo Brasil, que contribuiu decisivamente para um grande
salto do superávit comercial.
Outro desencontro com a realidade
foi a projeção de juros reais cadentes,
chegando a 8% ao ano em 2005 -hipótese que o documento considerava
"pessimista". Na prática, tivemos
uma trajetória de alta dos juros básicos, que atingiram a faixa de 13% em
termos reais (descontada a inflação).
Tanto o superávit primário mais alto como o câmbio mais baixo apontariam para uma redução mais rápida da relação dívida/PIB do que aquela que se observou. O fato de essa relação não ter tido redução maior deveu-se exclusivamente ao nível exorbitante da taxa de juros.
Esses dados indicam que, independentemente do plano agora proposto, já teria sido possível combinar de
modo mais racional o esforço de
ajuste de gastos e receitas públicas
com a fixação da taxa de juros de modo a evitar excessiva apreciação do
câmbio, propiciar maior crescimento da economia e reduzir mais rapidamente o fardo do endividamento
público.
Próximo Texto: Editoriais: CIPOAL LEGISLATIVO Índice
|