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CARLOS HEITOR CONY
Tempo de arrastões
RIO DE JANEIRO - O feriado da semana que passou (dia 15) abriu, oficial e praticamente, a temporada de
verão aqui no Rio. Muita coisa passa
a acontecer, além do sol, do calor e
dos arrastões. Vejo, daqui da varanda, do outro lado da Lagoa, armar-se
a árvore colorida que iluminará as
nossas noites de Natal e Ano Novo.
Tudo parece funcionar: o verão, o sol,
o calor, os arrastões e a árvore de Natal. Num país e numa cidade em que
nada parece funcionar, pelos menos
o calendário funciona. Nem tudo está
perdido.
Nada é novidade, nem mesmo o arrastão na política nacional, que ficou
velho e, como já acentuei em crônica
anterior, dá a impressão de ter o prazo de validade vencido. Que foi um
arrastão complicado, foi. Bem verdade que as vítimas foram poucas, muito mais da metade conseguiu salvar-se. Como naquele trecho dos Evangelhos, muitos foram chamados e poucos escolhidos -embora com os pólos trocados: ninguém queria ser chamado e muito menos escolhido.
Deu para o gasto. Ficamos sabendo
o que já devíamos estar carecas de saber: enquanto prevaleceram as regras
vigentes no processo eleitoral, do presidente da República ao vereador de
São José das Três Ilhas, todos pagarão o tributo das doações e faturamentos paralelos. Garanto que não
mais haverá caixa dois. Ficou desmoralizada, saiu da linha de produção.
O processo será aperfeiçoado, teremos a caixa três, que não será a mesma coisa porque será muito mais,
agregando o risco que todos correrão,
doadores e doados.
Bem, o verão chegou, o arrastão na
política nacional entrará em recesso,
substituído pelos arrastões no Arpoador e em Ipanema. Como faço parte
dos arrastados, consolo-me em esperar a árvore de Natal ser acesa, com
suas luzes refletidas nas águas da Lagoa. Uma pena que nem todos tenham direito à pausa que iluminará
minhas noites. Mesmo assim, não me
sinto culpado.
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