São Paulo, sexta-feira, 20 de dezembro de 2002

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ÂNSIA POR JUROS

O dólar fechou ontem, pela primeira vez desde o dia 20 de setembro, cotado abaixo dos R$ 3,50. O alívio cambial, iniciado já na segunda-feira, caminhou de passo com uma valorização dos ativos brasileiros no exterior. Com a indicação e a sabatina do futuro presidente do Banco Central e a consumação de um choque nos juros, a semana parece caminhar para um desfecho favorável no que tange às expectativas dos agentes financeiros.
Do IBGE, porém, provieram ontem notícias bem menos auspiciosas. A taxa de desemprego de novembro, retirados efeitos sazonais, manteve a trajetória de ascensão verificada desde o 2º trimestre do ano e atingiu a casa dos 8% da população economicamente ativa. Em outubro o rendimento médio dos trabalhadores registrou retração, tendência que se mantém desde janeiro de 2001.
Esses últimos dados se associam a outros como a queda do investimento em 2002, a progressiva contenção do gasto público e a manutenção da carga tributária em níveis recordes.
Segundo o IBGE, a inflação ao consumidor medida pelo IPCA-15 de dezembro (cobrindo o período de 12 de novembro a 9 de dezembro) foi de 3,05%. Antes de embarcar na tese de alguns poucos analistas de que há um amplo surto de demanda neste fim de ano, é preciso verificar em que grau a alta recente de preços tem sido alimentada, no que diz respeito a seus meios internos de propagação, por um movimento na elite dos detentores de poupança. Parte dos recursos que giravam os títulos públicos, num momento de incerteza política, foi provavelmente desviada para a aquisição de ativos reais.
Aumentar os juros pode até fazer com que grandes poupadores voltem a aumentar sua carteira de títulos públicos, contribuindo para "normalizar" a rolagem da dívida do governo. Mas é uma medida que asfixia ainda mais o setor empresarial e todos aqueles que dependem apenas do emprego para sobreviver.


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