São Paulo, quarta-feira, 20 de dezembro de 2006

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ANTONIO DELFIM NETTO

Destravar e catracar

DEPOIS DE 12 anos de enorme sucesso de estabilização monetária, obtida após sete tentativas mal-sucedidas, o país continua em estado letárgico. A vitória sobre o dragão da inflação foi tão acachapante que são Jorge aproveitou a anestesia geral para construir uma assombrosa vulnerabilidade externa (hoje resolvida), um aumento espantoso da carga tributária de 10% do PIB (de 26% para 36%) e um aumento inacreditável de 27% do PIB do endividamento público (de 30% para 57%, agora em 51%) sem que houvesse a menor resistência da sociedade e a mais leve crítica da maioria dos analistas econômicos.
A tabela abaixo mostra a tragédia em corpo inteiro, separando por períodos o crescimento brasileiro nos últimos 57 anos.




Se aceitarmos a convenção de que uma geração é igual a 25 anos, temos que, em 1950-1984, o PIB per capita dobrava em menos de uma geração. Entre 1995-2006, ele precisaria de três gerações para fazer o mesmo. É simplesmente disso que se trata: acabamos com a inflação (este ano ela será pouco mais de 3%), o que é um feito extraordinário, e... matamos o crescimento (este ano ele será menor que 3%), o que não é menos extraordinário!
Os dois têm certa afinidade com a imensa taxa de juro real que nos persegue há anos e a "super" valorização recente do real que a arbitragem de juros ajudou a produzir.
Seria um grave equívoco, porém, sugerir que "um pouquinho mais de inflação poderia produzir um pouquinho mais de crescimento": um pouquinho mais de inflação apenas produz mais inflação, principalmente num regime dominado pela "expectativa de inflação".
O nome do novo jogo sugerido pelo presidente Lula é o crescimento de 5%. Por quê? Porque, se bem-sucedido, ele nos levaria de volta a dobrar o PIB per capita em menos de uma geração! O problema é que o crescimento não se sujeita a ser "programado".
Ele é, basicamente, um "estado de espírito" amparado por "condições objetivas". É muito saudável o "estado de espírito" que se tenta criar, mas tão (ou mais) importante é a disposição de "destravar" a economia brasileira. O último "The Global Competitiveness Report 2006-07", do World Economic Forum, nos dá o lamentável 66º lugar nas condições de competição numa análise das economias de 125 países. É preciso mesmo "destravar", mas também "catracar", por exemplo, a involução das agências reguladoras. dep.delfimnetto camara.gov.br

ANTONIO DELFIM NETTO escreve às quartas-feiras nesta coluna.

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